Nas Casas do Pátio, em Caldas da Felgueira, concelho de Nelas, as termas locais e a Serra da Estrela continuam a ser os principais atrativos para os turistas que chegam. Mas, para Lídia e Catarina Minhoto, a região tem todo um património turístico cujo valor está longe de ser aproveitado.
Em 2007, Lídia e Catarina Minhoto tiveram um sonho: recuperar um conjunto de casas dos avós em Caldas da Felgueira, uma aldeia termal no concelho de Nelas, e transformá-las num alojamento turístico. Sete anos depois nascem as Casas do Pátio, um conjunto de habitações contíguas de tipologia T1 e T2, de arquitetura moderna e elevado nível de conforto. “Somos sobretudo procurados por jovens casais e grupos de amigos que apesar de virem juntos querem ter o seu espaço privado”, explica Lídia. Foi dela que partiu a ideia das Casas do Pátio. Cansada da instabilidade da carreira de docente, lançou o desafio à família e a irmã, Catarina, advogada e docente no Instituto Politécnico de Viseu, aceitou-o.
Apesar da inexperiência no setor, as duas irmãs não “mergulharam” à toa no projeto. O histórico da procura pela estância termal da aldeia suportava a ideia. Ainda antes de existir o conceito de “alojamento local”, já os pais das irmãs Minhoto o praticavam, quando arrendavam a casa onde hoje é o escritório do alojamento à quinzena aos termalistas que não se satisfaziam com o típico quarto com casa de banho. “Sabíamos da importância das termas para o negócio, mas nós tínhamos uma visão mais abrangente, mais regional”, diz Lídia.
Termas aquém do potencial
As propriedades curativas das águas das Termas das Caldas da Felgueira são reconhecidas desde o século XIX e as renovações das instalações feitas nos anos 1980 e 1990 colocaram-nas no top das estâncias termais mais procuradas em Portugal, a par das vizinhas Termas de São Pedro do Sul, Viseu. Porém, hoje não é bem assim. Segundo Catarina, a partir de 2008, as Termas das Caldas da Felgueira entraram em declínio de notoriedade, uma realidade que as leva a classificar de "surpreendente", o número de hóspedes que chegam às Casas do Pátio com as termas em mente. “O município de São Pedro do Sul teve uma visão muito mais futurista e estratégica das termas que o município de Nelas e o resultado está à vista”, desabafa. Apesar da recente renovação do Grande Hotel das Caldas da Felgueira, que lhe conferiu a classificação de quatro estrelas, a advogada entende que as instalações das termas não respondem às exigências dos “novos” turistas muito virados para o bem-estar e o concessionário não contribui para o desenvolvimento da região.
“A Câmara Municipal de Nelas devia ter um papel mais proativo junto da entidade gestora para que houvesse uma maior visibilidade das termas na região”, defende. Ainda assim, apesar da falta de notoriedade das Termas das Caldas de Felgueira no universo das termas em Portugal, o fundamento das duas irmãs para a génese do projeto estava correto e as águas termais aconselhadas para maleitas das vias respiratórias - asma, bronquite, sinusite - e doenças de pele, estão entre os principais angariadores de clientes das Casas do Pátio.
Há valor além da Serra da Estrela
A região de Nelas é rica em património arquitetónico e natural e integra a região de Vinhos do Dão. Já Caldas da Felgueira é banhada pelo rio Mondego, está a uma hora de distância da Serra do Caramulo, das cidades de Coimbra e de Lamego, esta já na região do Douro, e a menos ainda de Viseu ou da Torre, na Serra da Estrela. O que não faltam são motivos para fazer das Casas do Pátio a base para uma visita à região o que tem originado procura. Todavia, a maioria vem pelo mesmo motivo: a Serra da Estrela.
As empresárias, bem que promovem o bem-estar, mas a inexistência de um espaço próprio nas termas, separado do dos tratamentos, dificulta a estratégia. Pelo contrário, o vinho consegue convencer alguns dos portugueses e brasileiros que vão chegando. “Temos dois parceiros, a PALWINES, um pequeno produtor, mas com vinhos de qualidade, premiados, e a Caminhos Cruzados, um grande produtor que tem uma adega bonita e proporciona várias atividades ligadas às vinhas e ao vinho, para famílias e para crianças”, explica Lídia. Além destes, as anfitriãs recomendam também ex-líbris como a Casa de Santar, e outros pontos de interesse da região, como os jardins das casas senhoriais e o património arquitetónico nas redondezas.
Após a fase difícil originada pelo contexto pandémico, Catarina adianta que as reservas já realizadas pronunciam um ano talvez melhor que 2019. “Nestes últimos dois anos, as reservas eram sempre para o curto prazo e este ano já temos reservas para meio do ano, o que é um bom sinal”, diz. Porém, na opinião das duas empresárias, a visão abrangente que sempre idealizaram para o turismo na região está longe de se concretizar.
Mais equilíbrio entre indústria e turismo
Na região de Nelas, o setor industrial está para a economia como a Serra da Estrela está para o turismo. As irmãs esforçam-se em praticar uma visão regional para o turismo e, sempre que se concretiza uma reserva nas Casas do Pátio, os hóspedes recebem por correio eletrónico um conjunto de roteiros sobre o que ver, fazer e onde comer durante a sua estadia, todos pensados e desenhados por Lídia e Catarina com o objetivo de mostrar o melhor que a região tem para oferecer a quem a visita. Mas, não há esforço individual que valha, quando não há uma estratégia coletiva.
Iniciativas como a participação do município de Nelas em feiras ligadas ao vinho são para Catarina um passo no caminho a fazer, mas são insuficientes. “Não basta promover os produtores e fazer folhetos de informação sobre os alojamentos existentes, é preciso criar uma simbiose entre todos os agentes”, defende Catarina, adiantando que é fundamental ouvir todas as pessoas envolvidas no setor e traçar uma estratégia agregadora, capaz de gerar um efeito sistémico.
A preservação do património natural é uma peça fundamental dessa estratégia. As cicatrizes dos incêndios de 2017 são bem visíveis dos terraços das Casas do Pátio. “Nada foi feito”, dizem, lamentando a envolvência da aldeia que tem a Serra da Estrela como pano de fundo. No rio Mondego, as margens estão descuidadas e a praia fluvial da aldeia, que devia ser um local de valor acrescentado, está abandonada, o que obriga as empresárias a encaminhar os hóspedes das Casas do Pátio para a aldeia vizinha quando há vontade para, por exemplo, passear na natureza ou fazer um piquenique, sem ter que "agarrar" no carro e ir até à Serra da Estrela.
“O nosso município precisa de olhar para o concelho para além da indústria. Há aldeias ricas em património que deve ser capitalizado e a natureza tem muito para nos oferecer, basta cuidarmos dela e aproveitá-la de forma sustentável”, remata Catarina Minhoto.
@iNature. Casas do Pátio.
CASAS DO PÁTIO
Fotos Casas do Pátio.