Em Novembro, o hotel Casas da Lapa Nature & Spa recebeu a classificação cinco estrelas. A iNature foi lá visitar Maria Manuel Cruz Silva (na foto), uma professora universitária que por influência do marido, Nuno Bravo, se apaixonou pela aldeia Lapa dos Dinheiros e, juntos, concretizaram o sonho de ali construir uma unidade hoteleira. Dezasseis anos depois, o hotel Casas da Lapa Nature & Spa é o destino de referência na encosta ocidental da Serra da Estrela para quem procura a natureza como terapia.
O desafio do atual contexto está a tornar-se numa oportunidade para o turismo de natureza e no espaço rural. Segundo a plataforma booking.com, as emoções da viagem, o bem-estar e a ligação com as comunidades locais são as tendências para 2022 e, nestes campos, a região Centro de Portugal tem cada vez mais e melhores trunfos para cativar os turistas. O hotel Casas da Lapa Nature & Spa é um deles. Situado na Aldeia de Montanha Lapa dos Dinheiros, concelho de Seia, em plena encosta ocidental da Serra da Estrela, a mais íngreme da maior montanha de Portugal Continental, a experiência de uma estada neste hotel começa na viagem a fazer para lá chegar. Foi o que nos aconteceu. Vindos de sul, tentámos chegar à aldeia pela estrada que leva os turistas ao ponto mais elevado da serra – Torre -, mas a neve, que este ano tardou em aparecer, obrigou-nos a contornar a serra por sudoeste. É um caminho mais longo, mas cujas paisagens e aldeias de passagem - Alvoco da Serra e Loriga -, fazem valer todos os minutos e quilómetros a mais.
O hotel Casas da Lapa Nature & Spa surge numa primeira versão em 2006, com oito quartos e uma enorme paixão de Nuno Bravo e Maria Manuel pela aldeia de Lapa dos Dinheiros. “O Nuno é natural daqui, sempre teve uma relação de proximidade com a aldeia e passou aqui grande parte da infância e, nós, desde que nos conhecemos, sempre gostámos muito da aldeia e sempre vimos aqui um grande potencial turístico”, explica Maria Manuel. Naquela altura, a localização da aldeia era vista como um ponto menos favorável ao projeto, dada a localização recôndita e os estreitos acessos da aldeia, mas decidiram arriscar e o tempo acabou por lhes dar razão. “A realidade acabou por demonstrar que estamos numa localização excelente”, diz Maria Manuel.
Situado na encosta ocidental da Serra da Estrela, a mais íngreme, a localização do hotel Casas da Lapa Nature & Spa era vista como um fator menos favorável para o projeto, mas o tempo encarregou-se de demonstrar que era uma perceção errada.
A 700 metros de altitude, em pleno Parque Natural da Serra da Estrela e envolta no bosque primitivo da montanha, onde brotam vários cursos de água, Lapa dos Dinheiros tem uma comunidade viva e genuína, e acessos pedonais a pontos de interesse da Serra da Estrela, como a Lagoa Comprida e a Torre, que está ali a quatro horas de distância. “São muitos os hóspedes que fazem estas caminhadas”, diz. Para a anfitriã, o turismo associado à natureza é cada vez mais procurado, mas já não significa “acampar na serra e caminhar durante seis dias. Hoje, as pessoas vêm, comem, descansam, fazem piscina, uma caminhada de três horas”, descreve. E foi com base na observação desta mudança que o hotel foi crescendo e desenvolvendo o conceito que o caracteriza.
Hoje o hotel Casas da Lapa Nature & Spa tem 15 quartos que resultam da reconstrução e recuperação de seis edifícios. Tem restaurante, sauna, banho turco, piscina interior e duas piscinas exteriores, biblioteca, um pequeno auditório e vários espaços exteriores, com destaque para uma cascata natural, que é um autêntico regozijo para os hóspedes. “As pessoas vinham para aqui sobretudo para descansar, por isso, fazia sentido ter uma abordagem ao conceito de bem-estar, daí o Spa fazer sentido”, explica Maria Manuel. “E, como estamos dentro de um Parque Natural e rodeados de água, uma forma de relaxamento, enveredámos por um conceito de Spa que é muito especial para nós”, adianta.
Nos últimos anos, a aumento da oferta de unidades hoteleiras tem surgido a par com um aumento da quantidade, diversificação e da qualidade dos serviços. No campo do bem-estar, é hoje normal que os hotéis com algum grau de sofisticação ofereçam serviços de Spa aos seus clientes. Neste sentido, para não cair no “mais do mesmo”, o hotel Casas da Lapa Nature & Spa encontrou na aromaterapia uma forma de se diferenciar da oferta convencional deste tipo de serviços. “Uma vez que estamos numa aldeia e num Parque Natural fez sentido para nós o uso de óleos essenciais que a natureza nos dá”, explica Maria Manuel. Desta forma, o hotel não só consegue oferecer um serviço enquadrado com contexto onde está inserido, como consegue fazê-lo de forma personalizada, em função do perfil e das necessidades individuais de cada hóspede.
O hotel trabalha com uma marca belga de óleos essenciais, a Pranarom. “É a melhor marca que está no mercado”, diz Maria Manuel. A afirmação não é feita de ânimo leve. Quando não está em Lapa dos Dinheiros, a Professora Doutora Maria Manuel ensina química farmacêutica na Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra. Na sua ausência, a gestão do quotidiano do hotel é entregue a Lusitana Bravo (à esquerda na foto em baixo). A trabalhar no hotel desde 2006 e, por isso, profunda conhecedora dos "cantos da casa", Lusitana é anfitriã e gestora da unidade hoteleira quando a docência impede a presença de Maria Manuel.
Natural da Venezuela, Aidé Manrique é a responsável pelos tratamentos de aromaterapia no Spa do hotel Casas da Lapa Nature & Spa. "Há pessoas que voltam, sobretudo, por causa da Aidé", diz Maria Manuel.
Para a gestão, os colaboradores, 16 no total, a maioria oriundos da aldeia e arredores, são um dos segredos do serviço de excelência ali prestado. E, no Spa, este valor acrescentado é um dos maiores trunfos do hotel. Ao conhecimento científico do efeito terapêutico dos óleos essenciais, o Spa do hotel soma a magia de Aidé Manrique (na foto em cima). Com uma experiência acumulada superior a 20 anos, as mãos desta terapeuta de origem venezuelana transformam uma normal massagem descontraturante num tratamento terapêutico. Qual é a sua magia? Perguntamos. “Limito-me a ouvir as pessoas e a procurar os pontos de tensão”, explica Aidé com um sotaque latino-americano e uma simpatia, por si só, apaziguadora. Com uma formação sólida adquirida em países como a Venezuela, Chile e Índia, Aidé é um exemplo da importância crescente da formação dos colaboradores em áreas tão especificas como a do bem-estar. “Temos hóspedes que repetem a estada para estar com a Aidé”, confessa Maria Manuel. Ou seja, mais do que um hotel de montanha, equipado com um Spa, onde os hóspedes podem relaxar, as características do hotel Casas da Lapa Nature & Spa conferem-lhe contornos de hotel terapêutico de onde os hóspedes saem descansados, mas, sobretudo, revigorados.
O passado recente, pautado pelo contexto pandémico, tem sido difícil para o empreendedorismo no setor do turismo. E, apesar da menor quebra do número de estadas registadas pelas unidades situadas no interior do país e em espaço rural, os dois últimos anos da gestão do hotel Casas da Lapa Nature & Spa têm sido desafiantes. “O confinamento do ano passado foi muito difícil para nós”, adianta Maria Manuel. No início do ano passado, o cancelamento massivo das reservas obrigou o hotel a encerrar durante quase três meses e a ausência de histórico, dado o hotel ter reiniciado a atividade com mais quartos e novas infraestruturas em 2020, a gestão não tinha o histórico exigido para aceder aos apoios criados pelo Governo.
Todavia, apesar das dificuldades do passado, Maria Manuel encara o futuro com algum otimismo. “O pior é a incerteza. É não sabermos quando é que isto acaba”, confessa, adiantando que é um cenário que impede a tomada de decisões importantes para o futuro do hotel. “Dou-lhe um exemplo: em janeiro do ano passado contratámos pessoas que, devido ao agudizar da situação pandémica, trabalharam apenas cinco dias porque a economia ‘fechou’”, conta.
Caso a incerteza se dissipe, Maria Manuel encara o futuro do setor e, em particular, os segmentos do turismo de natureza e das pequenas unidades hoteleiras, com otimismo. “As pessoas começam a preferir cada vez mais hotéis pequenos e acredito também que o turismo de natureza vai continuar a crescer”, diz, defendendo que estes segmentos serão privilegiados num contexto de retoma, desde que a oferta responda às expetativas.
"O Turismo do Centro ganhou massa crítica e, apesar de agregar mais de uma centena de municípios, tem conseguido fazer um trabalho extraordinário ao conseguir dar visibilidade à região".
Na opinião da gestora, o trabalho de promoção realizado pelo Turismo do Centro tem tido um papel importante na resiliência do setor na região. “O Turismo do Centro ganhou massa crítica e apesar de agregar mais de uma centena de municípios, tem conseguido fazer um trabalho extraordinário ao conseguir dar unidade e visibilidade à região”, aponta. Paralelamente ao património natural, onde a gestora destaca o papel agregador da iNature, Maria Manuel sublinha também a relevância do papel das Aldeias de Montanha na promoção de um produto que é também uma das tendências apontadas pela plataforma booking.com para 2022, o turismo autêntico. “Agora, volto a sublinhar, as pessoas já não vêm só para fazer caminhadas, procuram outros fatores de atração e nós, os nossos hotéis e a nossa região, temos essas componentes. Se as trabalharmos, temos razões para encarar o futuro com otimismo”, defende.
@iNature. Casas da Lapa Nature & Spa. Jan 2022