Quando em outubro de 2017, o Chão do Rio - Turismo de Aldeia foi assolado pelo desastre infernal que atingiu a região da Serra da Estrela, Catarina Vieira, gerente e cofundadora deste alojamento rural localizado na aldeia de Travancinha, concelho de Seia, entendeu que tinha de fazer algo. O fogo, que regressaria em 2022, tinha de ser combatido por todos.
É assim que nasce o Dia Aberto do Chão do Rio, um evento que junta comunidades e entidades de vários setores com um objetivo comum: sublinhar a necessidade de se intervir de forma continuada na regeneração da floresta da região e encontrar soluções que permitam contrariar o ciclo do fogo.
A quarta edição do evento aconteceu no passado dia 19 de maio. Num auditório ao ar livre sombreado por carvalhos partilharam-se experiências e iniciativas para proteger e tornar a floresta mais resiliente aos fogos de verão.
Renata Almeida, em representação do movimento Bravo Mundo, abriu a sessão de apresentações explicando como esta “organização” local nascida da mobilização de residentes na região de Travancinha estão a trabalhar de forma a tornar a floresta local mais resiliente contra os fogos de verão. Um caso que demonstra a importância da proatividade das populações locais e do trabalho conjunto na prevenção e proteção da floresta, mas também que não são necessárias grandes formalidades ou estruturas organizacionais pesadas e hierárquicas para conseguir resultados.
Da Serra do Caramulo esteve presente a Associação Cabeço Santo e o seu presidente, Jorge Morais, que contou a história inspiradora desta organização que recorre a voluntariado para o restauro ecológico de uma região, onde o eucalipto tem vindo a ganhar dominância.
A terminar os trabalhos da manhã, Pedro Prata, diretor executivo da Rewilding Portugal, contou como a organização está a transformar espécies selvagens e semisselvagens em gestores da paisagem de forma a restaurar os ecossistemas naturais da região do Vale do Côa e a torná-los mais resistentes ao fogo.
Antes do almoço, houve ainda tempo para fazer uma visita à “Floresta Esperança”, uma parte da propriedade do Chão do Rio, onde Catarina Vieira e a sua equipa estão a por em prática a regeneração florestal.
À tarde, o evento contou várias atividades práticas dedicadas a todos os participantes. José Conde, biólogo do Centro de Interpretação da Serra da Estrela conduziu os presentes pelos diferentes ambientes aquáticos da propriedade, onde se recolheram amostras e foi possível aprender como a biodiversidade existente nesses ambientes é um indicador da qualidade sustentada da água.
Seguiu-se uma espécie de “Banho de Floresta” pela orientação de Ana Alpande. Residente em Fiais da Beira, esta artista e terapeuta proporcionou um momento de pausa sob os carvalhos mais antigos do Chão do Rio, em que os participantes foram desafiados a abrandar e a sentir o corpo por dentro e a “pele de fora” em contacto com a natureza, apurando todos os sentidos, numa prática de eco-somática.
Após o lanche, os participantes foram conduzidos pelo veterinário Ricardo Brandão, do CERVAS - Centro de Ecologia, Recuperação e Vigilância de Animais Selvagens, numa busca à avifauna local. Neste curto passeio foi possível avistar 19 espécies diferentes. Para terminar, o público teve o privilégio de assistir à devolução à natureza de uma Ógea, um pequeno falcão que esteve em recuperação no CERVAS.
O evento contou ainda com um mercado de artesanato onde marcaram presença vários artesãos locais e com o “Clube Fabrinca”, uma atividade específica para crianças criada por Júlia Chevallier-Gonçalves, uma educadora que tem um projeto local, que celebra o ato do brincar na natureza e a descoberta de diferentes materiais e técnicas artísticas.
Foi uma ode à floresta e à natureza com regresso marcado para o próximo ano.
@iNature, Chão do Rio - Turismo de Aldeia | Fotos: Pedro Ribeiro. Direitos reservados | jun 2024.