Perante um mercado em mudança, João Leitão está a reorientar a estratégia do Colmeal Countryside Hotel. É a teoria de Darwin aplicada à gestão turística. Quem não se adaptar, arrisca-se a ficar para a história.
Nos quase 700 hectares que compõem a Quinta do Colmeal há um pouco de tudo. Abutres e águias imperam nos céus. Coelhos, perdizes, raposas e gamos procuram alimento pelo terreno rochoso, outrora galeria de artistas pré-históricos. Há um olival e uma vinha de onde surgem néctares nobres, uma reserva de caça, uma aldeia, um restaurante e um hotel classificado com quatro estrelas. Mas, nos tempos que correm, escasseiam os hóspedes. João Leitão - na foto, com a esposa, Catarina, e as filhas, Caetana e Guiomar -, o responsável pela gestão deste investimento familiar, tem-se desdobrado em estratégias. Começou por atrair pessoas em teletrabalho, mas o efeito não foi o desejado. “Com treze quartos e uma suite, não temos escala. Nem preço”, conclui. No turismo de caça, “o tiro saiu-lhe pela culatra” quando o governo proibiu a atividade cinegética devido à intensificação da pandemia. Nos últimos meses, o hotel tem vivido de hóspedes ocasionais, sobretudo de profissionais que se deslocam à região para trabalhar, mas não chega.
“Estamos ligados à máquina”, metaforiza o empreendedor. Em termos de reservas, as perspetivas para o ciclo que agora se inicia não são as melhores. João antecipa um vazio até abril, um mês de maio fraco e, “quem sabe, uma retoma em julho”. Certezas, apenas uma: o perfil e a origem dos hóspedes não será o mesmo. E é aqui que entram os ensinamentos de Charles Darwin aplicados à gestão. João sabe que se não adotar uma estratégia adequada ao ambiente atual, poderá ser uma vítima da seleção natural do mercado.
Apontar ao mercado ibérico
Com os elevados constrangimentos existentes ao nível dos transportes aéreos, “o primeiro passo será recentrar o nosso target nos mercados português e espanhol. Julgo que serão os dois mercados mais fortes nos próximos tempos”, adianta. De Espanha, o Colmeal Countryside Hotel está focado em atrair os turistas habituais das praias da região de Aveiro. “Vai registar-se um aumento qualitativo e quantitativo de turistas oriundos de Salamanca”, preconiza. Para isso está a preparar a presença em feiras no país vizinho, algumas ligadas ao tema “caça” onde tenciona continuar a apostar. “Este segmento tem-nos permitido mitigar a procura baixa nos meses de novembro, dezembro e janeiro e financiar os projetos de conservação da natureza em curso na quinta”, explica. Já em Portugal, o objetivo é atrair os turistas que escolhem o Algarve para passar férias.
Para ser bem-sucedido em ambas geografias, João sabe que tem que reformular o “produto”. Além da vertente natureza, a ideia é aproveitar a proximidade das aldeias históricas de Castelo Rodrigo e Almeida para reforçar a atratividade do Colmeal Countryside Hotel nas vertentes histórica e cultural. Está inclusive a equacionar uma candidatura ao Programa de Apoio à Produção Nacional para se enquadrar melhor com o turismo das aldeias históricas e “vamos também reformular o nosso site e as campanhas de comunicação e marketing”, diz. Ou seja, na prática, João está a aplicar o darwinismo à gestão de uma unidade hoteleira. Porque, de facto, quem não se adaptar ao atual ambiente, arrisca-se mesmo a ficar para a história.