Conseguir juntar mil hectares numa região onde predomina o minifúndio, com o intuito de criar uma zona de proteção das aves rupícolas que nidificam nas arribas do Côa, é, por si só, uma vitória. Mas, tornar a Reserva da Faia Brava numa espécie de Kruger Park português - sem leões, mas com pinturas rupestres - e num exemplo do que de melhor que se pode fazer pela conservação da natureza é notável. “Conseguimos criar aqui um equilíbrio natural”, diz Marco Ferraz, orgulhoso.
O resultado de uma abordagem holística concretizada pela ATNatureza não só se vê nos céus habitados por várias espécies de águias e abutres e, em terra, onde pastam livres cavalos garranos e vacas maronesas, como gerou impacto na comunidade local. “A reserva atraiu investimento. Criaram-se unidades de alojamento local e o número de produtos certificados em modo de produção biológica multiplicou-se”, diz o Técnico de Ecoturismo e Educação Ambiental, sublinhando que a influência que a reserva teve na sensibilização dos agricultores da região para a prática de modos de produção mais ecológicos e sustentáveis. Agora, o objectivo é cativar pessoas a visitar a reserva e uma parceria em curso com o Museu do Côa, suportada pela Estratégia de Eficiência Coletiva PROVERE iNature – Turismo Sustentável em Áreas Classificadas, será um passo decisivo para colocar Reserva da Faia Brava na berlinda do turismo de natureza nacional e internacional.
Abrir novas portas
A ação da iniciativa da iNature, denominada “Portas de Entrada”, tem o objetivo de criar estruturas ou espaços em locais estratégicos alusivas às 12 áreas classificadas que a marca representa. As respeitantes ao Parque Natural Local Vouga-Caramulo e à Faia Brava têm já o estudo prévio desenvolvido e as expectativas são elevadas. No caso da Faia Brava, o projeto está alinhado para a criação de uma exposição permanente no Museu do Côa.
“A ideia é expor a Faia Brava e convencer parte dos visitantes do museu a visitar a reserva”, explica Marco. Com uma média anual próxima de 30 mil visitantes, o museu e o Parque Arqueológico do Vale do Côa são o epicentro do turismo na região. As sinergias são claras. Só na componente económica, Marco estima que conseguir levar 5% dos visitantes do museu à reserva daria origem a receitas anuais próximas dos 50 mil euros para a associação, além de criar um efeito sistémico na economia local.
À semelhança da generalidade dos projetos turísticos, a Faia Brava viu a tendência crescente do número de visitantes ser interrompida pelo contexto de pandemia. Mas, tal como a natureza, não parou. Além da contínua atividade de formação e educação ambiental, Marco explica que estão em desenvolvimento os “mini-oásis”, um projeto piloto que coloca a reserva na vanguarda da restauração de ambientes em zonas áridas, e uma parceria com a Rewilding Europe que visa intensificar a renaturalização do Grande Vale do Côa, o que o leva a ter uma visão otimista sobre o futuro. “Os turistas gostam e reconhecem o valor destes projetos, e as entidades públicas serão cada vez mais pressionadas a apoiar quem contribui para manter o território, fixar carbono e combater as alterações climáticas”, defende, sublinhando acreditar que, tal como no ano passado, este ano irá registar-se uma procura elevada por atividades de baixa densidade ao ar livre.