À DESCOBERTA DO GRANDE VALE DO CÔA

Abutres a patrulhar os céus e manadas à solta em terra. Há um novo começo no Vale do Côa. Mais selvagem e com uma rudeza encantadora.

Algum do património que hoje se aprecia no Grande Vale do Côa está exposto há cerca de vinte mil anos. Estima-se que por membros da cultura Solutrense, que por ali viveram no período paleolítico. As gravuras rupestres do Parque Arqueológico do Vale do Côa e o Museu do Parque são um património valioso da região e merecedor de uma visita, mas não é o único.

TGrande Vale do Côaodo o vale do rio Côa, desde a sua nascente, em Fóios, até à região da bacia terminal do rio, tem um valor natural e paisagístico ímpar. Sobretudo a fase final do rio, pela diferença. É um território inóspito, com pouca vegetação, marcado por aflorações rochosas e escarpas vertiginosas, ao qual se junta um clima agreste nos picos do verão e do inverno. Mas, nesta espécie de vazio rude, há abundância de vida.

Onde dormir

A paisagem convida a pernoitar em plena natureza e o Colmeal Coutryside Hotel, é uma boa opção de alojamento nesse sentido. Integrado numa quinta com mais de 650 hectares, localizada na proximidade de Figueira de Castelo Rodrigo, é uma amostra do ecossistema local e proporciona uma série de atividades aos hóspedes dentro da propriedade.

Em alternativa sugerimos a Casa Vilar Mayor. Situada na aldeia de Vilar Maior, no Portugal profundo, esta casa de campo soma o conforto e a hospitalidade a uma envolvência deslumbrante. Vilar Maior tem muito para oferecer e está a poucos minutos dos locais de referência da região. No entanto, a ser escolha, recomenda-se um passeio pelo Vale Carapito, um dos projetos de renaturalização da Rewilding Portugal.

Birdwatching, história e amendoeiras em flor

O Grande Vale do Côa é um dos melhores locais do país para observar o Britango - Abutre do Egito –, o gigante Abutre Preto e a Águia de Bonelli, entre outras aves rupícolas que procuram locais seguros para nidificar nos rochedos das escarpas. Na região existem vários projetos de conservação e renaturalização que estão a dar nova vida à região. A Reserva da Faia Brava é o mais antigo. Ali, as manadas de cavalos garranos e vacas maronesas a viver em estado selvagem fazem lembrar os tempos em que o Auroque partilhava o território com os autores da arte rupestre da região.

Amendoeira em flor, Figueira de Castelo Rodrigo.

A região é também um local de gentes, verdadeiras guardiãs da abundância em cultura e história. A fortaleza de Almeida, carregada de histórias, e as Aldeias Históricas de Castelo Rodrigo e Castelo Mendo são, por exemplo, três locais incontornáveis de visita. Uma dica: para os compreender melhor, peça ajuda aos companheiros "Contigo, Há Descoberta", um projeto de turismo social e de natureza da autoria da ASTA - Associação Socio Terapêutica de Almeida, que é imperativo conhecer. Conheça alguns detalhes desta iniciativa aqui.

Visite também Cidadelhe. Além da magnífica vista para o Vale do Côa, esta pitoresca aldeia, genuína e hospitaleira, é o local certo para viver a cultura e a gastronomia da região.

Entre fevereiro e março, as amendoeiras dão um espetáculo digno de se ver. Numa espécie de antestreia da primavera, a árvore de fruto mais comum na região veste de branco as terras em redor da vila Figueira de Castelo Rodrigo. Este espetáculo, que dá origem a um dos produtos endógenos mais valiosos para a região, é celebrado desde 1941 e este ano está marcado para os fins-de-semana de 24 e 26 de fevereiro e 3 e 5 de março. O certame conta com vários artistas de renome nacional, diversas atividades e eventos e uma "feira" de produtos endógenos e artesanato. É mais um pretexto para ir até lá.

Cavalos Garranos, na Rserva da Faia Brava, Figueira de Castelo Rodrigo.FAIA BRAVA – RESERVA DE VALOR

A região conta com um dos projetos de renaturalização mais emblemáticos do país: a Reserva da Faia Brava. Criada no ano 2000, após a aquisição de 30 hectares de terreno por um conjunto de biólogos e o objetivo de preservar as aves rupícolas da região, como a Águia-de-Bonelli e o Britango (Abutre do Egito). A ideia ganhou tração e, uma década depois, a Faia Brava foi reconhecida como a primeira área protegida privada de Portugal. Hoje, a Reserva da Faia Brava reúne terrenos de mais de três dezenas de proprietários num total superior a mil hectares geridos pela Associação Transumância e Natureza (ATNatureza) com um propósito mais vasto.

Grifos, na Reserva da Faia Brava, Grande Vale do Côa.A estratégia passa agora pelo restauro ecológico do território. Em 2014 foram introduzidos na reserva manadas de vacas maronesas e de cavalos garranos, que por ali vagueiam sem limitações, sob o olhar das Águias e dos Abutres que patrulham os céus em busca de uma refeição. Recuperaram-se ruínas que agora servem de instalações de apoio aos visitantes e desenharam-se trilhos que permitem contemplar toda a riqueza da flora e fauna locais. Um deles, o Trilho dos Biólogos, é uma aula de ciência viva. Como é atravessada pelo rio Côa, a reserva pode ser também um ponto de partida para uma visita às várias gravuras rupestres existentes nas margens do rio.

É uma iniciativa a conhecer e a reconhecer, e uma visita obrigatória para qualquer adepto da natureza. Para uma visita mais enriquecedora, aconselha-se o acompanhamento por um guia da ATNatureza. Além de um corpo de profissionais, fundamentais para a interpretação do território, da fauna e da flora, a associação desenha programas de visita adequados a todo o tipo de visitantes.

@iNature. Fotos iNature, @kitato e João Cosme.

ZPE Grande Vale do Côa

Grande Vale do Côa

A ver

Nascente do Côa, em Fóios, amendoeiras em flor, albufeira de Santa Maria de Aguiar e Reserva da Faia Brava.

A visitar

Museu e Parque Arqueológico do Vale do Côa, aldeia de Castelo Melhor, ponte de Sequeiros (Badamalos – Sabugal) e aldeia de Cidadelhe.

Britango ou Abrutre do Egipto, na Reserva da Faia Brava.

Britango - Abutre do Egipto.

A fazer

Percursos pedestres e de BTT, e passeios culturais pelas aldeias pitorescas e Aldeias Históricas da região. Entre as rotas, a GR45 - Grande Rota do Vale do Côa permite conhecer toda a região. Conheça as etapas aqui. Devido à elevada população de aves rupícolas esta região está entre as das melhores do país para a prática de fotografia de natureza e birdwatching.

GR45 - Grande Rota do Côa em BTT

Fazer a Grande Rota do Vale do Côa de bicicleta é uma ótima forma de conhecer e desfrutar das paisagens da região.

A provar

É uma região rica em carnes de caça. Cavacas de Pinhel e amêndoa. A região tem-se vindo a afirmar no contexto vitivinícola. Não parta sem provar alguns vinhos ali produzidos. Vai-se surpreender