João Diniz, Diretor do Grande Hotel de Luso

GRANDE HOTEL DE LUSO,
depois da água, a floresta

Em 1937, Fernando Bissaya Barreto lançava a ideia de erguer um hotel para aproveitar um recurso natural da vila de Luso. Oitenta e um anos depois da inauguração, o Grande Hotel de Luso é uma referência do turismo de bem-estar em Portugal e a estratégia de João Diniz, no segundo mandato a liderar a gestão do hotel, é continuar a apostar na natureza. Depois dos banhos nas águas termais de Luso, seguem-se os banhos…de floresta na Mata do Bussaco.

Banhos de Floresta ou Terapia de Floresta. A distinção entre as duas práticas é ténue e ainda não há uma definição uniforme consensual, mas as duas atividades baseadas na natureza começam a ganhar tração em várias vertentes. Uma delas é no turismo de bem-estar e o líder do Grande Hotel de Luso quer acrescentá-las à oferta disponibilizada pelo hotel. “São duas novas áreas de atuação que vêm complementar um conjunto de valências que temos para oferecer”, diz João Diniz, Presidente do Conselho de Administração do Grande Hotel de Luso. “Na prática, é aproveitar mais um recurso endógeno que existe aqui no território, no âmbito da saúde”, justifica. Inserido numa região rica em bosques e florestas, das quais se destaca a Mata do Bussaco, a ideia é consolidar o posicionamento da unidade hoteleira no campo da saúde e do bem-estar, mas ao contrário do termalismo, já consolidado, o gestor reconhece que há ainda um longo caminho a percorrer.

Em países como o Japão, onde o Shinrin-yoku – Banhos de Floresta – é uma prática ancestral e enraizada na cultura nipónica, em Portugal e na maioria dos países ocidentais está a dar os primeiros passos. Embora exista já algum trabalho significativo em termos de investigação científica sobre os benefícios da prática de atividades baseadas na natureza na saúde humana, João Diniz defende que a Terapia de Floresta, a vertente mais associada ao tratamento de doenças, ainda está numa fase de desenvolvimento muito embrionária, e Portugal não tem players da área do turismo de saúde à altura da concorrência existente na Alemanha, Turquia e Áustria, por exemplo. “No âmbito de um congresso recente de Terapia de Floresta, na Áustria, tive a oportunidade de visitar um hotel-hospital no meio de uma floresta, que até sala de operações tinha. Nós ‘Portugal’ não temos nada que sequer se aproxime daquilo”, conta. Para o gestor, o desenvolvimento do Turismo de Saúde em Portugal carece da aposta de um grande player do setor, seja ele nacional ou internacional, e a Terapia de Floresta precisa ainda de investigação científica que a consolide como um instrumento de tratamento. Todavia, na vertente dos Banhos de Floresta, o potencial existe e a capacidade de o desenvolver, também. “Enquanto atividade de lazer, já conseguimos definir o produto e temos as pessoas para fazer o acompanhamento, o que torna a questão mais fácil de concretizar”, explica.

“Estou convencido que ao introduzirmos a componente dos Banhos de Floresta neste género de públicos
conseguiremos melhores resultados, tanto ao nível da nutrição como dos desequilíbrios do foro psicológico”.

Equipa de gestão do Grande Hotel de LusoÉ preciso ganhar escala

Para o gestor existem duas formas de valorizar a floresta no contexto turístico, de acordo com a dimensão e especificidade da unidade hoteleira. Para o Grande Hotel de Luso, onde o termalismo e o turismo de bem-estar são valores adquiridos, os Banhos de Floresta são um complemento à oferta já desmobilizada pela unidade hoteleira. Segundo João Diniz, o cliente-tipo dos Banhos de Floresta será muito específico, diferente do cliente do termalismo, mas com problemas semelhantes, relacionados com distúrbios alimentares e desequilíbrios mentais e emocionais. “Estou convencido que, ao introduzirmos a componente dos Banhos de Floresta neste género de públicos conseguiremos melhores resultados, tanto ao nível da nutrição como dos desequilíbrios do foro psicológico”, defende, sublinhando que nos programas longos – 7 a 14 dias – a oferta complementar dos Banhos de Floresta é um fator de valor acrescentado.

Ainda assim, os cerca de 50 clientes por ano que recorrem a este tipo de programas longos, mesmo sendo de elevado valor acrescentado, são insuficientes para originar uma escala que justifique investimentos mais avultados. “Estamos a falar de um produto para um nicho de mercado, que vale entre 20 a 30 euros por pessoa”, salienta, adiantando que a solução para o hotel poder oferecer este novo produto passará pelo encontro de parceiros que forneçam os guias para responder à procura que o hotel conseguir angariar e para ajudar a divulgar esta prática em que o hotel se quer posicionar na linha da frente. Um desses esforços será concretizado no dia 28 de julho, quando o Grande Hotel de Luso receber as primeiras "Jornadas de Natureza, Saúde e Bem-estar", um evento promovido pela DESTINATURE. Outro, será uma aposta no segmento corporate.

“Vamos contactar os diretores de recursos humanos de grandes empresas no sentido de os sensibilizar para os Banhos de Floresta como uma atividade de redução de ritmos e gestão do stress profissional”.

A síndrome de burnout, ou síndrome de esgotamento profissional, é um problema crescente a nível mundial, tendo levado a Organização Mundial de Saúde a declarar a síndrome como doença em 2019. Em Portugal, um inquérito realizado pela Deco Proteste em 2018 revelou que um terço dos trabalhadores portugueses estão em risco de burnout, originando estados de depressão resultando em absentismo, presentismo e baixa produtividade, dando origem a perdas anuais para as empresas de 3,2 mil milhões de euros, segundo a Ordem dos Psicólogos Portugueses.

Para João Diniz, as doenças associadas ao trabalho são uma oportunidade onde os Banhos de Floresta podem ser uma mais-valia. “Vamos contactar os diretores de recursos humanos de grandes empresas no sentido de os sensibilizar para os Banhos de Floresta como uma atividade de redução de ritmos e gestão do stress profissional”, diz, adiantando que, neste segmento, já será possível conseguir alguma escala. No Grande Hotel de Luso, o segmento corporate é responsável por cerca de um terço do volume de negócios anual. Além de ser usado com frequência para a realização de congressos, o facto de estar inserido numa região propícia a atividades ao ar livre em grupo, é uma oportunidade a explorar.

Já em unidades de alojamento mais pequenas, João Diniz defende que os Banhos de Floresta poderão ser adotados como um elemento diferenciador. “Em empresas de âmbito mais familiar, chamemos-lhe assim, o proprietário pode obter formação e oferecer o produto - banhos de floresta - e o serviço – guia -, e ir ganhando terreno por aí”, explica.


Um engenheiro no turismo

Até 2015, João Diniz não tinha qualquer experiência em turismo e hotelaria. Engenheiro mecânico de formação, passou a maioria do seu percurso profissional no setor industrial, mas quando em 2017 foi escolhido para liderar o Grande Hotel de Luso, não teve receio. “Gerir empresas é gerir expectativas e pessoas”, diz, sublinhando que a gestão hoteleira e o turismo não têm nenhuma ciência especial, além da “tecnologia do relacionamento humano que é, para quem gosta, fácil de trabalhar”. O engenheiro-gestor, é um desses profissionais. Gosta do que faz, é pragmático, detesta as palavras “não” e “problema”. “Procuro oportunidades em todas as situações e tenho conseguido dar a volta a situações, por vezes até difíceis. E espero conseguir continuar a fazer esse trabalho”, conta. O passado recente, marcado pelo contexto pandémico, foi uma dessas situações. Como qualquer unidade hoteleira, o Grande Hotel de Luso registou uma quebra acentuada da atividade em 2020 face a 2019. Ainda assim, o hotel nunca encerrou e esteve sempre a receber hóspedes.

“Não há nenhuma varinha mágica.
É preciso dar confiança às pessoas da casa e transmiti-la ao cliente.
Se ele a sentir, volta. Não é nada de extraordinário,
é manter as pessoas à nossa volta satisfeitas”.

“Definimos duas linhas de ação”, explica. A primeira foi garantir os postos de trabalho de forma a dar a segurança e a confiança necessária para que os trabalhadores mantivessem o equilíbrio emocional. Para isso, contou com os apoios governamentais ao setor, que diz terem sido indispensáveis para concretizar este desígnio. E a segunda foi adotar um conjunto de práticas muito pragmáticas – uso de máscaras e desinfeção constantes das mãos e dos espaços do hotel entre os vários momentos de utilização -, mas o menos intrusivas possíveis, que comunicassem segurança aos hóspedes. Aqui, João Diniz destaca o papel dos trabalhadores da unidade hoteleira, fundamentais para a passagem da mensagem, mas também a presença do município da Mealhada no auxílio prestado ao nível da testagem do staff do hotel, em momentos cruciais da evolução da pandemia.
O Grande Hotel de Luso orienta-se para três segmentos: termalismo e spa (particulares), desporto e corporate. E os clientes nacionais são, de longe, os mais representativos. “Perdemos o corporate, como toda a gente perdeu. Mas não perdemos tanto no desporto e nos particulares”, confessa, exemplificando que no segundo semestre de 2020, o volume de negócios do hotel registou uma quebra de 30% no face ao mesmo período de 2019, e, isto, com “zero” de corporate, segmento que representa um terço do negócio total da unidade hoteleira.

Sobre o futuro, João Diniz está otimista. Apesar da incógnita sobre a recuperação do segmento corporate, maio e junho foram meses muito bons e a expectativa do responsável aponta para um contínuo crescendo até ao final do ano, relativamente a 2020, “que poderá resultar num crescimento anual entre 30% a 40% face a 2020, mas ainda 20 a 30% inferior aos valores de 2019, que espero conseguirmos alcançar em 2022”, diz. Para o conseguir, o responsável está empenhado no turismo de bem-estar – Termas, spa e Banhos de Floresta. “Se tivermos que aumentar o nível de serviço para o mesmo preço, assim será, desde que não coloque em causa a sustentabilidade da empresa”, adianta. Mas, sobretudo, vai manter-se fiel aos seus princípios fundamentais. “Não há nenhuma varinha mágica. É preciso dar confiança às pessoas da casa e transmiti-la ao cliente, e se ele a sentir, volta. Não é nada de extraordinário, é manter as pessoas à nossa volta satisfeitas”, termina.

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