No topo da Serra da Gardunha, o Natura Glamping é um caso de bonança em plena tempestade. Fintou a pandemia em 2020 e este ano pode vir a bater recordes. Jorge Pessoa, gestor do empreendimento, explica a estratégia que está a levar o negócio a bom porto, apesar dos ventos desfavoráveis que sopram sobre o setor.
“Em 2020 registamos uma faturação superior à de 2019, apesar de termos encerrado dois meses. E este ano esperamos um volume ainda maior”. A afirmação de Jorge Pessoa (na foto), gestor do Natura Glamping, choca de frente com a realidade atual do setor. A nível nacional, entre janeiro e dezembro do ano passado, o número de dormidas e os proveitos totais decresceram 63% e 66%, respetivamente, face ao período homólogo, e, apesar de na região centro e na categoria de alojamento do Natura Glamping os números serem menos negativos, o desempenho da unidade liderada pelo empresário da Covilhã segue na direção contrária aos ventos que sopram no turismo.
Situado no topo da Serra da Gardunha, o Natura Glamping oferece uma vista extraordinária sobre o vale do Fundão e a Serra da Estrela, um espaço inserido na natureza e a experiência de pernoitar num Domos Geodésico com tudo o que o luxo pode oferecer. “O glamping está na moda”, diz Jorge Pessoa, mencionando vários empreendimentos que têm surgido no país. Mas, será este fator suficiente para tal navegação à bolina? “Não, é preciso ouvir os clientes e estar em melhoria contínua”, responde o empresário.
Do projeto inicial composto por seis Domos Geodésicos para alojamento e um para eventos, o Natura Glamping conta hoje com apenas mais um Domos para alojamento. Mais do que na quantidade, a gestão tem apostado no aumento da qualidade dos alojamentos. Uma das vertentes tem sido o aumento do conforto térmico. A cerca de mil metros de altitude e virado a norte, de frente para a Serra da Estrela, o frio é um atentado constante ao conforto dos hóspedes e as alterações climáticas têm-se feito sentir. “Temos registado uma diminuição da temperatura média nos invernos e os períodos com temperaturas inferiores a zero graus têm sido mais longos”, constata Jorge. Neste sentido, os Domos têm sofrido vários upgrades ao logo do tempo. Hoje, todos têm portas, quando antes tinham zips – fechos –, alguns foram equipados com jacúzis, um está revestido a cal biológica e, um outro, foi reconstruído em cortiça, tudo alterações a pensar no aumento do conforto térmico dos alojamentos. Já este ano, todos os Domus do Natura Glamping serão equipados com salamandras para complementar o sistema de aquecimento através de ar condicionado.
Sempre a evoluir
No espaço exterior, a evolução também se fez notar. No dia em que a iNature visitou o Natura Glamping, a azafama era grande. Enquanto uns técnicos implementavam melhorias no sistema de videovigilância, outros concentravam-se no sistema de armazenamento e distribuição de águas quentes. Jorge apressou-se a explicar: “nunca tivemos problemas de segurança, mas é uma área em que não podemos vacilar”. Já a presença dos profissionais em redes de distribuição e armazenamento de águas, resulta das “dores do desenvolvimento”. “Os jacúzis trouxeram uma necessidade acrescida de águas quentes e estamos a melhorar o sistema”, explicou o gestor, aproveitando para revelar que a piscina do empreendimento passará a ter água temperada já a partir desta época primavera/verão. “Será mais um contributo para aumentar a estadia média”, diz.
Estar localizado no topo de uma serra, imerso na natureza, é uma mais-valia. O sossego e o contacto com a natureza são dois fatores de relevo na escolha dos clientes do Natura Glamping, mas os ainda que escassos quilómetros que distam entre o empreendimento e a cidade mais próxima, o Fundão, são um desafio para quem tem hóspedes que desejam ter acesso a todos os serviços sem sair do empreendimento. A reabilitação do edifício da receção, agora equipado com cozinha, sala de estar, bar com esplanada e espaço para refeições atenuou o problema, mas não o resolveu na totalidade. “Somos muito dependentes em termos de serviços”, confessa Jorge. Por exemplo, em termos de atividades, o Ioga é a única que não depende de terceiros porque Elga, a esposa de Jorge, é a instrutora.
Estas dificuldades de logística estão agora na mira do gestor. “Estamos a trabalhar com os nossos fornecedores na construção de uma solução online que agilize a comunicação com os clientes”, adianta o responsável. A ideia é construir uma ferramenta que permita aos clientes, não só reservar e pagar a estadia como definir, por exemplo, que atividades e refeições desejam fazer e o horário preferencial. “Isto irá dar-nos tempo para preparar atempadamente estes serviços e prestá-los com a maior qualidade”, adianta. Nas refeições, por exemplo, algumas são agora preparadas e servidas no edifício principal, mas o objetivo de Jorge é criar sinergias entre o Natura Glamping e o restaurante Alkimya, um outro projeto da sua iniciativa, situado na Covilhã. “Vamos criar uma carta própria no ‘Alkimya’ para os clientes do Glamping e, se soubermos o que desejam e quando desejam, conseguimos servir aqui refeições confecionadas no restaurante com toda a qualidade”, afirma.
Marketing de influência
Além da comunicação com os clientes já angariados, Jorge aponta a forma como o Natura Glamping tem conseguido captar a atenção do mercado. Aqui, o gestor confessa que o fator moda tem ajudado. “No início chegamos a ter um orçamento anual para marketing e publicidade, mas deixamos de precisar. Ainda hoje, é a comunicação social que vem ter connosco”, diz. No entanto, Jorge acredita que tal possa ser fruto de uma estratégia, algo vanguardista, quando optaram por contratar duas embaixadoras: Rita Ferro Rodrigues e Iva Domingues, ambas figuras públicas da televisão. Funcionou. "Gera reservas imediatas", confirma. E ainda funciona. É frequente ver-se o Natura Glamping referenciado por figuras públicas nas redes sociais, todavia, já é mais uma consequência do que uma campanha propositada. “Nós somos bombardeados por bloggers e figuras públicas que oferecem exposição em troca de dinheiro ou de ‘borlas’ e a nossa resposta é quase sempre negativa”, explica.
Uma das métricas que usam na escolha dos influenciadores é o número de seguidores que têm nas redes sociais e quem tiver menos que Natura Glamping é excluído. Jorge confessa que a empatia para com a figura em causa também tem influência na decisão, mas não há borlas. “Podemos dar algum miminho, como aconteceu com a Carolina Deslandes. Convidámo-la a jantar connosco num restaurante no Fundão, mas a estadia foi paga”, explica o gestor. Já diferente será o caso de Bruno Fernandes. Jorge anda a tentar trazer o jogador do Manchester United ao Natura Glamping. Por isso, se num futuro próximo andar por aí nas redes umas fotos do futebolista na piscina do Natura Glamping a desfrutar da paisagem, não se admirem. É o charme da Gardunha ao serviço do marketing de influência.
@iNature | Fotos Natura Glamping