início dos Passadiços do Mondego, na Barragem do Caldeirão.
Há muito que os Passadiços do Mondego estavam na nossa lista das caminhadas a fazer em família. Até já tínhamos feito algum trabalho de casa. Sabíamos as características fundamentais do percurso e que a entrada tinha o custo de 2,5 euros para maiores de 12 anos.
Assim que o sol apareceu, comprámos os bilhetes online e seguimos diretamente para o ponto inicial recomendado: a Barragem do Caldeirão, perto da Guarda.
COMO CHEGAR:
Mapas para chegar às três portas dos Passadiços do Mondego: Barragem do Caldeirão, Videmonte, Vila Soeiro.
Passadiços do Mondego, uma boa forma de conhecer esta região do vale do rio Mondego.
Os Passadiços do Mondego são um percurso pedestre na Serra da Estrela com cerca de 12 km (11.750 metros), que acompanha o leito do Rio Mondego, entre a Barragem do Caldeirão e a aldeia de Videmonte, no concelho da Guarda, em pleno território do Geopark Estrela.
O trajeto pode ser feito nos dois sentidos - Barragem do Caldeirão para Videmonte ou vice-versa. Se for feito na totalidade demora entre 3 a 5 horas a percorrer, consoante o ritmo e o número de paragens. Tem um desnível acumulado de 600 metros e um grau de dificuldade "moderado", sobretudo, devido à elevada quantidade de escadas.
Em alternativa, é possível fazer apenas parte do percurso através de um ponto de entrada/saída intermédio que existe em Vila Soeiro.
Não há grandes alternativas ao transporte próprio. Só há transportes públicos até à Guarda. Da cidade até às portas dos passadiços é preciso apanhar um táxi. A viagem demora cerca de 15 a 20 minutos.
Há parques de estacionamento junto às portas dos passadiços, mas quando se chega ao final, é necessário “chamar” um táxi que leve os caminhantes até ao ponto de partida. Uma “corrida” de táxi entre a Barragem do Caldeirão e Videmonte e vice-versa custa cerca de 15 euros.
Os Passadiços do Mondego têm três portas que permitem dimensionar o percurso ao gosto dos caminhantes. É possível fazer trajetos com 2,75 km, 9 km ou com 12 km, o percurso completo.
Porta dos Passadiços do Mondego na Barragem do Caldeirão.
Como sugerido no website dos Passadiços do Mondego, optámos por fazer o percurso no sentido Barragem do Caldeirão – Videmonte.
Estacionámos o automóvel no parque situado na margem direita da barragem, junto à ponte, dirigimo-nos à margem esquerda, onde Susana Borrego e Alda Esteves, duas colaboradoras da empresa gestora dos passadiços, estão resguardadas numa pequena casa de madeira à espera dos visitantes.
Depois de uma simpática saudação, confirmaram os nossos bilhetes enviados por e-mail. "Há sempre gente nas portas?", perguntamos. “Sim, há sempre colegas aqui, no posto de Vila Soeiro, a 2,75 km daqui, e em Videmonte”, diz Susana Borrego.
“É melhor começar por aqui ou por Videmonte?”, perguntamos. “Depende”, diz Susana. “Ao começar aqui desce 1,5 km e depois é sempre em ligeira subida até Videmonte. De lá para cá, é sempre a descer, mas depois, aqui, no final, tem uma escadaria com 1000 degraus. É muito duro”, explica.
“Para famílias e pessoas com mais idade recomendamos fazer o percurso de Videmonte até Vila Soeiro”, explica Alda Esteves. “Além de ser sempre a descer é, na minha opinião, mais bonito do ponto de vista paisagístico”, diz.
Para famílias com crianças e pessoas com mais idade, o percurso mais adequado é entre Videmonte e Vila Soeiro. São 9 km em ligeira descida ao lado do rio Mondego e sem escadarias no final.
Miradouro do Mocho Real, Barragem do Caldeirão.
O percurso começa na Barragem do Caldeirão com uma longa e ziguezagueante escadaria, mas antes de descer recomenda-se subir alguns degraus atá ao miradouro do Mocho Real.
Situado a 700 metros de altitude e sob a Garganta Epigénica do Caldeirão, pode ser desafiante para quem sofre de vertigens, mas é importante para interpretar a paisagem. Deste geossítio é possível ver a bacia da barragem construída em 1993, o vale da Ribeira do Caldeirão a ir ao encontro do Rio Mondego e as aldeias Vila Soeiro e Mizarela.
Segue-se a escadaria, 1125 degraus (desde o miradouro) para descer em pouco mais de 600 metros. A meio há dois miradouros, um para contemplar a cascata da ribeira do caldeirão e outro para apreciar a paisagem (ou descansar, sobretudo. para quem vier em sentido contrário).
HORÁRIO DOS PASSADIÇOS
Zona de floresta exuberante.
Finda a escadaria, o trilho segue por passadiço e por estrada de terra até à aldeia de Pero Soares, acompanhado por uma paisagem idílica. O vale da ribeira é dominado por freixos, carvalhos, azinheiras e outras espécies ripícolas. Mas, aqui e ali, há socalcos e muros de pedra que definem leirões onde persistem oliveiras, cerejeiras, nogueiras, e outras árvores de fruto. Provas de que o homem fez outrora parte desta paisagem.
Mais à frente, junto a Pero Soares, cruza-se o rio Mondego na Ponte da Mizarela, numa espécie de curva parabólica à esquerda para rumar à porta de Vila Soeiro e ao coração do vale do rio Mondego.
Da barragem até ao ponto intermédio do percurso, na porta de Vila Soeiro, os nossos pedómetros registaram 2,75 km. Dali até Videmonte são mais 9 km.
DICAS ESSENCIAIS ANTES DE VISITAR OS PASSADIÇOS DO MONDEGO:
Guarda-rios. A arte de Nuno Miles nas ruínas da Fábrica Nova.
Como disse Alda, nesta segunda metade do percurso a paisagem é de uma beleza ímpar. Mas além da história natural à vista de todos, há uma história cultural escondida nas ruínas que se vão encontrando ao longo do caminho.
Entre meados do século XIX e meados do século XX, este vale foi um importante cluster industrial. Foi aqui que nasceram os tradicionais cobertores de papa, produzidos nos chamados “engenhos”, como a Fábrica Nova e o Engenho do Pateiro. Ao longo do percurso são muitas as ruínas de imponentes edifícios que marcaram a indústria dos lanifícios na Serra da Estrela até meados do século passado. Mas não só.
Foi também ali que foi construída a Central Hidroelétrica do Pateiro, a segunda unidade do género em Portugal, que no virar do século levou a eletricidade até Trinta - a primeira aldeia do país a ter eletricidade - e à Guarda, que tornou-se na terceira cidade portuguesa a ter rede elétrica.
Quem procura beleza paisagística vai encontrá-la nos Passadiços do Mondego, mas além da natureza e da biodiversidade, este percurso pedestre faz-se sob um território que foi berço da história e da cultura desta região.
Além da beleza e história natural à vista de todos, há uma história industrial e cultural escondida nas ruínas que vai-se revelando ao longo do caminho.
Burros do Rui Carvalho, Dica: Por trás do barracão há uma nascente de água.
Do posto de Vila Soeiro até ao Açude de Trinta fazem-se 7 dos 9 km desta segunda etapa. Há inúmeros geossítios, miradouros, pontes suspensas e alguns locais onde é possível sair dos passadiços para descansar à sombra e cumprimentar o rio.
Um pouco antes do açude encontramos Rui Carvalho, um apicultor natural de Trinta, que aproveita o facto do percurso passar no seu terreno para fazer negócio e passar umas mensagens de apelo à conservação e respeito pela natureza.
Além de mel, Rui vende bebidas, café, e velas de cera de abelha. Nem sempre está lá, mas não há problema. Quem quiser serve-se e paga por MB Way, as instruções estão lá escritas num papel em cima da mesa que faz de montra.
“Encham a garrafa de água ali na nascente por trás do curral dos burros, a parte final é muito soalheira”, avisa.
As melhores épocas para fazer os Passadiços do Mondego são a primavera e o outono. Evite os dias com temperaturas acima dos 25 graus, o microclima no vale torna-se demasiado quente. Evite também os dias chuvosos, porque o piso torna-se escorregadio.
Chegada a Videmonte.
Até cerca de 2 km do final, o percurso faz-se bem. Mas a inclinação que até aí é pacífica e moderada por zonas sem declive, acentua-se. E, para dificultar, o passadiço passa para a margem esquerda do rio colocando os caminheiros à mercê do sol. Rui bem avisou.
Quem chegar aqui entre as 11 e as 14 horas num dia solarengo com temperaturas amenas - estavam 22 graus - vai sentir o que significa "grau de dificuldade moderado".
Não é aconselhável fazer os Passadiços do Mondego neste sentido no verão, quando as temperaturas são elevadas.
Esta dificuldade aumenta nos últimos mil metros onde começam a surgir os primeiros vãos de escada. Embora não seguidos, a não ser na fase final, são no total 501 degraus que após 11 km de caminhada são, no mínimo, exigentes.
Os Passadiços do Mondego são um percurso pedestre imperdível no Centro de Portugal, mas antes de partir há que preparar a viagem, pois é um trilho tão belo quanto exigente.
Fonte e Fotos iNature, Passadiços do Mondego | abril 2025.