casal no meio de um pomar de cerejeiras

Luís Bogalheiro e Sandrina Melfe, os anfitriões da Quinta do Limite.

QUINTA DO LIMITE: VIVER O CAMPO COM VISTA PARA A SERRA DA ESTRELA

Um casal, uma quinta, cerejas e genuinidade beirã. A história, as experiências e o que se pode ver e fazer neste recente alojamento rural localizado no sopé da Serra da Estrela.

O caminho da Quinta do Limite até à meta alcançada no mês passado foi longo. Começou a traçar-se em meados do século passado, quando a esperança de um escape à vida dura e pobre do campo era a emigração. Era assim que pensavam os pais de Sandrina Melfe (Sandrina) quando rumaram a França, e foi com uma esperança renovada de uma vida melhor na terra que os viu nascer que regressaram em 1982 para investir as poupanças em 40 hectares de terra e uma casa de pedra. A ideia era dedicarem-se à pastorícia e à produção de leite, atividades que foram sendo substituídas pela da fruticultura.

A agricultura não era muito bem vista como solução profissional entre os jovens e Sandrina não pensava de forma diferente. Nunca se afastou totalmente da quinta, mas quis o destino que enveredasse por uma carreira na banca. Pelo menos, até conhecer o atual marido.

pomar de cerejeiras em flor

Cerejeiras em flor. A colheita da cereja é uma das experiências propostas pela Quinta do Limite.

Também natural de Peraboa, Luís Bogalheiro (Luís) era até 2012 um trabalhador indiferenciado, uma forma moderna de caracterizar alguém capaz de fazer quase tudo, mas um convite dos agora sogros para trabalhar na quinta transformou-o num agricultor. “Foi uma aventura”, recorda. “Eu não percebia nada de agricultura. Nem sabia conduzir um trator”, exclama, a rir.

Os pomares foram crescendo e com eles a vocação de Sandrina. A pouco e pouco, começou a organizar visitas à quinta na época da cereja e o racional de juntar a atividade agrícola ao turismo foi ganhando forma. “Nós temos aqui um sítio muito bonito e o turismo é um complemento perfeito da atividade agrícola, que dura apenas alguns meses do ano”, justifica Luís.

O corolário da ideia do casal deu-se em março com um novo desafio: a abertura das portas da Quinta do Limite a quem procure uma experiência turística diferenciadora. “Queremos proporcionar experiências únicas”, diz Luís. “Há muitos hotéis e alojamentos para dormir na região, mas poucos a oferecer um turismo de experiências, e nós achámos que valia a pena explorar este nicho”, adianta.

paisagem dos pomares vsita da piscina

A piscina convida ao descanso e a vista à contemplação da paisagem.

VIVER AO RITMO DA NATUREZA

Contemplar as cerejeiras em flor, participar na colheita, ir às castanhas e descobrir cogumelos, fazer umas caminhadas pela quinta, piqueniques e partilhar momentos para mais tarde recordar em família. A época atual, da floração das cerejeiras, seguida pela colheita do fruto, é um exemplo. “As pessoas vêm, faz-se um passeio ou um piquenique nos pomares e depois colhem as cerejas para levar para casa. É uma experiência engraçada que tem sempre muita procura”, conta Sandrina que, entretanto, deixou a banca para abraçar o novo projeto. Para Luís, depois da agricultura, ser anfitrião é um novo desafio que aguarda com confiança. “Acredito que, com a ajuda da Sandrina, vamos fazer aqui algo com valor para a região”, diz.

Localizada em Peraboa, uma aldeia do concelho da Covilhã com pouco mais de 800 habitantes, onde a agricultura, a pastorícia e os laticínios são as atividades predominantes, o sossego e a genuinidade são valores garantidos.

Casa amarela

Receção e edifíco principal da Quinta do Limite.

A inauguração foi um exemplo da hospitalidade beirã e contou com a presença do (ainda) Secretário de Estado do Turismo, Nuno Fazenda, que teve o privilégio de ficar a conhecer o espaço, cujo tipo de oferta turística sempre defendeu.

Nas quatro dezenas de hectares da propriedade, os sons e as cores da natureza convidam a passeios pelos pomares ou pela zona de floresta ao ritmo vagaroso, mas tonificante da natureza. Além da época da cereja, entre maio e junho, a da castanha e a dos cogumelos, no outono, e as atividades relacionadas com a pastorícia, como a tosquia, a ordenha e a produção de queijo, proporcionam experiências memoráveis a miúdos e graúdos. Depois, a hospitalidade beirã de Sandrina e o conforto das instalações fazem o resto.

“Pretendemos diferenciar-nos também pela forma de receber”, diz a ex-bancária. Os hóspedes são recebidos com um cocktail de boas-vindas e os pequenos-almoços são uma mostra dos produtos endógenos da região, ingredientes que somados às cinco suites e um apartamento T2, zonas comuns, piscina e uma casa numa árvore para soltar a imaginação das crianças, tudo com uma vista deslumbrante para a Serra da Estrela, são a mistura perfeita para uma estadia memorável.

três pessoas a conversar

A inauguração da Quinta do Limite contou com a presença de Nuno Fazenda, Secretário de Estado do Turismo.

UMA BASE PARA DESCOBRIR A BEIRA INTERIOR

“É este tipo de oferta que o turismo da região precisa”, sublinha o governante, enquanto acompanha Sandrina numa visita guiada pela casa. A afirmação vai ao encontro de um estudo recente do Barceló Hotel Group que aponta o turismo gastronómico, de bem-estar e as experiências associadas aos locais e aos valores da sustentabilidade, como as principais tendências de procura em 2024. E, de facto, a Quinta do Limite oferece-as quase todas e o contexto envolvente complementa a oferta.

A gastronomia da região é rica e sempre marcada pelos produtos endógenos. Não é permitido regressar a casa sem degustar um dos vários pratos à base de cabrito ou borrego, provar o arroz de zimbro, de míscaros e a famosa feijoca de Manteigas, entre tantas outras iguarias.

Para os adeptos da natureza, o Parque Natural da Serra da Estrela e todo o seu esplendor natural, ideal para caminhadas e outras atividades baseadas na natureza, está a 30 minutos de distância de automóvel. No inverno, a neve é um atrativo extra, mas, seja qual for a época do ano, as paisagens e as típicas aldeias serranas são de uma beleza inebriante.

Sensivelmente à mesma distância, mas para nordeste, estão as Aldeias Históricas de Sortelha e Belmonte. A primeira impressiona pelo seu carácter pitoresco e a segunda pelo património e história do judaísmo em Portugal. O Museu Judaico e a Sinagoga de Belmonte são visitas obrigatórias.

Mais perto ainda estão as cidades da Covilhã e do Fundão, que permitem incursões na história industrial e cultural da região da Beira Interior. Na Covilhã, o Museu dos Lanifícios é uma visita incontornável para conhecer a importância desta indústria na história da cidade e da região. Por exemplo, o Centro Interpretativo da Cereja, na aldeia de Ferro, logo ao lado de Peraboa, é visita obrigatória para compreender a importância desta cultura na região. Já no concelho do Fundão, a rede de casas temáticas espalhadas pelas aldeias do concelho são uma mostra das artes e saberes que outrora marcaram a região.

Ou seja, passar uns dias na Quinta do Limite, é mergulhar na cultura e na natureza da Beira Interior, na companhia de quem sente e faz parte da história da região. Melhores anfitriões, não pode haver.

@iNature | Quinta do Limite | abril2024

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