A imagem de Santo António à entrada da propriedade da Casa dos Arrábidos, em Torres Novas, é reveladora. A quinta remonta ao século XVI quando uma comunidade de monges franciscanos oriundos da província de Santa Maria da Arrábida – Serra da Arrábida – ali ergueram um convento e uma capela - a Capela de Santo António. Tocamos à campainha e esperamos ao som dos pássaros.
Rui Gomes (foto 1 à dir.) abre a porta. É um dos oito filhos dos atuais proprietários da Casa do Arrábidos - Isabel Zuzarte Gomes (foto 1 à esq.) e Álvaro Santos Gomes. Depois de passar boa parte da vida a trabalhar em Lisboa, no ramo da informática, decidiu aceitar o apelo do pais para assumir a gestão da Casa dos Arrábidos. “Como eu já estava um pouco cansado da azáfama da vida da cidade, as coisas proporcionaram-se”, confessa.
Hoje, Rui é uma espécie de canivete suíço do alojamento. No dia em que visitámos a Casa dos Arrábidos, estava em modo jardineiro. “Eu gosto disto”, diz. “Também gosto de ir a Lisboa, confesso, mas aos fins-de-semana e como turista”, adianta, a rir. “Aquilo agora faz-me muita confusão, o trânsito, as multidões, o barulho…”, justifica. Noutros dias, é anfitrião, organizador de eventos, agricultor ou contador da história e das estórias da propriedade.
Apesar de agora envolta na malha urbana da cidade, a Casa dos Arrábidos mantém a traça rural, mas agora mais temperada por uma estética natural caracterizada por vários espaços de lazer ajardinados. “Já não é a propriedade original da comunidade franciscana”, explica-nos Rui. Tanto o convento como a capela foram severamente danificados pelo terramoto de 1755, mas enquanto a capela foi recuperada e ficou propriedade da Santa Casa de Misericórdia, o convento ficou com os frades que mais tarde foram expulsos por Joaquim António de Aguiar, um proeminente político do século XVIII, cujo espírito anti-eclesiástico lhe valeu a alcunha de “Mata-Frades”.Após a expulsão dos religiosos, a propriedade foi vendida pelo Estado a particulares e, em 1950, o avô paterno de Rui adquiriu-a já com alguns acrescentos ao casario original.
Em 2003, Isabel e Álvaro converteram a quinta em alojamento turístico. Deste passado histórico resulta uma propriedade dividida em duas partes por uma estrada com uma latada que muda de cor consoante a estação do ano e que nos conduz a um poço e uma ermida construída pelos frades. “Eles eram conhecidos pela mestria na construção de poços e condução das águas”, diz-nos Rui. Já a ermida, basta entrar e sentir a acústica para ter uma ideia do seu propósito.
Numa das metades existem três casas da família onde se inclui a do casal de proprietários e a horta. Na outra, de usufruto para os hóspedes, existem vários espaços de lazer, piscina, galinheiros, um lago preenchido por nenúfares e rãs, e a Casa dos Arrábidos.
A Casa dos Arrábidos surge da recuperação dos espaços do convento e de uma antiga cavalariça, onde ainda é possível ver vários apontamentos da arquitetura original. “Ainda há pouco tempo estiveram cá especialistas da Faculdade de Arquitetura do Porto”, conta Rui, mas a pouca documentação existente dificulta o estudo. “Há uma suspeita sobre a localização do claustro do convento, mas não há certezas”, diz. As colunas estão lá, mas não nos locais originais, o que dificulta a interpretação da arquitetura do edifício, cuja documentação se perdeu aquando do terramoto.
A Casa dos Arrábidos tem cinco quartos com uma capacidade total para alojar 15 pessoas, um amplo salão com lareira, mesa de jantar e espaço de jogos e uma zona exterior coberta de dimensão generosa. A reserva da totalidade da casa é muito frequente e não é pela história do local que as pessoas ali chegam.
O espaço exterior é adequado a famílias com crianças, grupos e a eventos pessoais ou corporativos. “Somos muito procurados para eventos e por grupos de amigos e famílias para festejar determinadas datas”, conta. A Passagem do Ano é um exemplo. É raro não ser reservada por um grupo de amigos ou uma família. Na parte restante do ano, há uma procura diversificada entre quartos e a casa completa.
Fátima, a Feira Nacional do Cavalo, na Golegã, e o património natural das Serras de Aire e Candeeiros são os principais ímanes da procura pela Casa dos Arrábidos. “As nossas épocas altas são as datas alusivas a Fátima e a feira da Golegã. O Cavalo Lusitano está com um elevado interesse internacional”, explica o nosso anfitrião, sublinhando que um dos serviços prestados pela Casa dos Arrábidos é o “Batismo de cavalo”, através de uma parceira com um criador na Golegã.
“Depois temos uma época intermédia entre junho e setembro, quando somos muito procurados por famílias grandes que reservam a casa por uma semana para conhecer a região”, conta.
As grutas, o Monumento Natural das Pegadas de Dinossáurios de Ourém/Torres Novas, o Polje de Minde e a Reserva Natural do Paul do Boquilobo estão entre o património natural mais procurado. E uma das experiências mais interessantes proporcionadas pela Casa dos Arrábidos é a visita de charrete à Reserva do Paul do Boquilobo. “É diferente e as pessoas gostam muito”, revela.
Há também quem aproveite para conhecer a cidade de Torres Novas e o seu património histórico e cultural, onde se inclui o castelo e a Capela de Santo António, ali, paredes meias com a Casa dos Arrábidos. Mas, seja qual for o gosto, duas coisas são certas: terão um anfitrião de braços abertos para os receber e orientar e uma hospitalidade digna de um Abade esquecido das regras beneditinas, pelas quais se pautavam os frades franciscanos que ali se radicaram no século XVI.
@iNature. Casa dos Arrábidos jul23.