Pedro Lucas, Solar da Castanha

SOLAR DA CASTANHA:
Um refúgio na Floresta

A Estrada Nacional 232, que leva a Manteigas quem chega à Beira pela A23, está em ótimas condições, mas a viagem não é fácil. As cicatrizes deixadas pelo verão estão à vista e a imaginação leva-nos para o filme de terror que passou ali na última estação. Porém, o verde da esperança aumenta à medida que nos aproximamos do destino. À entrada da vila viramos à esquerda, passamos a ponte sobre o rio Zêzere e seguimos por uma estrada ladeada por um denso castinçal que nos leva ao Poço do Inferno. A meio caminho encontramos o Solar da Castanha e o nosso anfitrião, Pedro Lucas (Pedro).

O dia marca uma efeméride, assinala Pedro. Foi a 13 de outubro de 1888 que se implantaram ali os Serviços Florestais de Manteigas, e a casa hoje transformada num turismo rural era uma das várias que constituía a rede de casas florestais da Serra da Estrela. “Cada casa tinha o seu cantão e o guarda-florestal era responsável pela gestão da floresta. O guarda desta casa tinha à sua responsabilidade uma área superior a hectares”, explica.

Estamos no Souto do Concelho, hoje castinçal – floresta de castanheiros bravos -, e uma das duas áreas florestais que estiveram sempre sob a alçada do município. Foi esta particularidade que permitiu a Pedro Lucas e à esposa, Manuela, adquirirem a casa florestal e os cerca de mil metros quadrados que a circundam. “A Câmara tinha a intenção de fazer aqui um restaurante. Ainda fez obras de melhoramento no edifício e lançou um concurso de concessão, mas ninguém agarrou nisto e a casa acabou em hasta pública”, conta Pedro. “Foi uma paixão pela casa e pelo espaço envolvente”, justifica.

Com três quartos, a casa tem capacidade para receber até dez pessoas, consoante o perfil da família ou grupo. É uma reabilitação da autoria de Pedro Brígida, um arquiteto de Coimbra, com raízes na Beira e com um vasto trabalho na área do turismo. Como casa de montanha, não podia faltar no Solar da Castanha a lareira, nem alguns dos elementos característicos da região, como a madeira de bétula e o burel, o tecido de lã característico da Serra da Estrela.

Grupo de ciclistas no Solar da Castanha, Manteigas, Serra da EstrelaA decoração tem a marca do gosto pessoal de Pedro e de Manuela. “Procurámos trazer a natureza para dentro da casa”, diz. O mesmo para os pequenos-almoços, onde são valorizados os produtos locais e sazonais, e para a hospitalidade. O negócio criou um posto de trabalho, mas Pedro procura receber todos os hóspedes pessoalmente, uma mais-valia para quem chega, dado o vasto conhecimento que o empresário tem da região. Com sorte, até poderão ser recebidos pela Sr.ª Ilda e pelo Sr. Alberto – os pais de Pedro. Ancestrais naturais da região, são um exemplo da simpatia e hospitalidade serrana.

Natureza: a nova terapia

O investimento surgiu da oportunidade, mas também da paixão e da visão que o casal tem do papel da natureza no futuro do turismo. Pedro acredita que a paisagem e a natureza serão muito valorizadas no futuro. “Mais do que já são agora”, sublinha. Para o Engenheiro Florestal, formação que também não é alheia ao investimento realizado, a pandemia veio mudar a visão das pessoas. “Há mudanças sociais de fundo em curso”, diz, mencionando o nomadismo digital e o quiet quitting, correntes que demonstram a procura por um maior equilíbrio entre a vida pessoal e a profissional.

O perfil do turista que procura o Solar da Castanha é disso um exemplo. Boa parte são estrangeiros – alemães, franceses, holandeses, entre outras nacionalidades. Chegam através de reserva direta ou através da plataforma booking.com e com um objetivo principal: desfrutar da natureza. Também há portugueses, como o grupo de jovens ali alojados no dia em que visitámos o Solar da Castanha. Embora naturais de diferentes localidades do país, trabalham juntos em Lisboa e partilham uma paixão. São adeptos de bicicletas antigas e, sempre que podem, juntam-se e fogem para locais onde podem espalhar o charme destes clássicos de duas rodas e apreciar a calma e as paisagens das estradas locais. “É o nosso escape”, diz um deles.

Banhos de Floresta, uma tendência a crescerDados da Organização Mundial do Turismo dizem que, enquanto o turismo convencional deverá crescer a um ritmo anual de 7,5%, o ecoturismo deverá expandir-se entre 15% a 25% por ano. A natureza é cada vez mais procurada como terapia de combate ao stress originado pelo quotidiano das cidades. E, além do tradicional pedestrianismo e o desportivo BTT, estão a surgir novas tendências associadas ao bem-estar. Pedro está atento.

Os Banhos de Floresta é uma delas. Na sala encontramos um livro sobre Shirin-Yoku - Terapia de Floresta - e outro sobre Banhos de Floresta, da autoria de Amos Clifford, um dos oradores do IV Congresso Internacional Floresta e Potencial para a Saúde, organizado pela iNature, em abril, na vila de Luso. “Aqui ao lado temos um espaço ótimo para esta prática”, diz, convidando-nos a visitar uma parte do espaço exterior ao Solar da Castanha, que é um autêntico centro de terapia da natureza.

Caminhadas de história e conhecimento

Localizada no final do Vale Glaciar do Zêzere, Manteigas possui um enquadramento paisagístico e um património natural únicos, que o município e os empresários do turismo têm procurado capitalizar. “O turismo em Manteigas tem estado a crescer e as expetativas são boas”, diz Pedro, revelando, todavia, alguma apreensão com atual contexto de subida de preços. “Para o turista de Lisboa, por exemplo, é cada vez mais caro vir ao interior”, exclama.  

Da vila parte uma rede de percursos pedestres – Trilhos Verdes - que ilustram a cultura e as tradições das populações serranas levando os caminhantes a locais tão esquecidos como memoráveis. Sentando no terraço do Solar da Castanha, Pedro indica alguns. Ali ao lado, a Rota do Javali (PR2 MTG) leva-nos até ao Poço do Inferno por dentro de uma floresta luxuriante ao longo das margens da Ribeira de Leandres. No topo há uma pequena rota com o nome deste monumento natural - PR1 MTG – Rota do Poço do Poço do Inferno.

Talisca, PR4 MTG - Rota do CarvãoFala-nos da incontornável e obrigatória Rota das Faias (PR13 MTG) e aponta para a encosta oposta, onde passa a estrada serrana que liga Manteigas a Gouveia – uma passagem obrigatória. “A zona da Carvalheira”, explica, a outra cuja gestão nunca saiu da alçada do município. Ali, onde se encontram alguns dos carvalhos negrais mais antigos do país e está mais uma das casas florestais da Serra da Estrela, passa a Rota do Carvão (PR4 MTG). São cerca de 20 kms de trilho que sobe até aos 1683 metros de altitude e desce depois em mergulho pelo Vale Glaciar do Zêzere, onde é possível ver inúmeros monumentos naturais, perceber a relação das populações com a Serra da Estrela e ver os quilómetros de caminhos e muretes construídos pelos serviços florestais para impedir enxurradas e mitigar a erosão. “É um percurso que vale muito a pena fazer”, recomenda.

“Para quem gosta de natureza e caminhadas, a Serra da Estrela é um autêntico parque de diversões”, exclama. Na mais alta montanha de Portugal Continental, cada caminhada é um tónico mental, rico em história e cultura, e bastam algumas horas sob a sua influência para sentir o efeito revigorante da sua natureza.

Informação útil:

Solar da Castanha - Um refúgio na floresta

Solar da Castanha - Um refúgio na floresta da Serra da Estrela.

Sr. Alberto e a Sr.ª Ilda são por vezes os anfitriões do Solar da Castanha.

Sr. Alberto e a Sr.ª Ilda são por vezes os anfitriões do Solar da Castanha.

Solar da Castanha - Conforto com vista para o PN da Serra da Estrela.

Solar da Castanha - Conforto com vista para o PN da Serra da Estrela.

Solar da Castanha - Caminhar e andar de bicicleta sao as duas atividades preferidas dos hóspedes.

Solar da Castanha - Caminhar e andar de bicicleta sao as duas atividades preferidas dos hóspedes.

@iNature | Solar da Castanha.