Podem parecer novas tendências, mas não são. Banho de Floresta deriva do termo shinrin yoku, uma prática de imersão na natureza que remonta às raízes do xintoísmo, a religião nativa japonesa, através da qual se procurava o equilíbrio físico e mental por meio de uma relação próxima com a natureza.
Embora ancestral, esta prática ganhou ímpeto em 1982 pela iniciativa do Ministro Japonês das Florestas e da Pesca, numa época em que o Japão atravessava um período de intenso desenvolvimento económico que fez disparar os níveis de stress nos trabalhadores citadinos. O responsável viu num saber antigo da cultura nipónica uma oportunidade de combater um emergente problema de saúde pública e, simultaneamente, chamar à atenção para a importância das florestas na sociedade.
O shinrin yoku é então formalizado pelo governo nipónico e com ele nasce a associação Forest Therapy Society que, em conjunto com as Universidades de Chiba e a Escola de Medicina de Nippon, torna-se na entidade responsável pela certificação das florestas e dos terapeutas para a prática da atividade no Japão, onde existem hoje 65 florestas certificadas para a prática de terapia de floresta (conheça-as aqui).
Na Europa, a Alemanha tem sido o país pioneiro na promoção do potencial da floresta para a saúde humana, em particular o estado federal de Mecklenburg-Vorpommern, onde está sediado o BioCon Valley, um cluster do setor da saúde que, em conjunto com a Universidade de Medicina de Rostock e a International Society of Forest Therapy (ISFT),têm fomentado a investigação científica sobre o tema e contribuído para a sua promoção e consolidação como uma prática de saúde e bem-estar.
Em Portugal, a ISFT é representada pela Destinature – Agência para o Desenvolvimento do Turismo de Natureza que, em conjunto com o Healing Forest International Certification Office, o orgão da ISFT que estabelece os standards para a certificação de Florestas Terapêuticas, está a trabalhar no processo de certificação da primeira Floresta Terapêutica em Portugal: a Mata Nacional do Bussaco.
Nos últimos anos, a prática do shinrin yoku tem-se propagado um pouco por todo o mundo ocidental, onde a velocidade furiosa de um quotidiano marcado por longas e intensas jornadas de trabalho, o stress do trânsito e a ligação constante a equipamentos eletrónicos está a originar problemas de saúde semelhantes aos vividos pelos japoneses na década de 1980.
Ansiedade, depressão e burnout, entre outras patologias de saúde mental, mas também físicas, como a morbilidade e os problemas cardiovasculares, são apenas algumas consequências de um estilo de vida pouco saudável para o indivíduo e para a sociedade, que têm despertado cidadãos, empresas e a comunidade científica para soluções alternativas à medicina convencional, mas com fundamento científico. É aqui que se enquadram os Banhos de Floresta e a Terapia de Floresta.
De uma forma simples, os Banhos de Floresta são um "passeio" imersivo na floresta a um ritmo lento em que os participantes vão sendo convidados pelo guia (ou terapeuta, no caso da Terapia de Floresta) a sentir os cheiros, as texturas e os sons da natureza através de exercícios introspetivos e sensoriais. Qualquer semelhança com o conceito de mindfulness não é mera coincidência. A ideia é libertar o cérebro da atividade e dos pensamentos quotidianos.
Muitas vezes, após cada exercício, os participantes são convidados a partilhar a sua experiência e, no final, é frequente ser servida uma tisana de ervas da floresta com efeito relaxante. Um Banho de Floresta pode durar algumas horas, mas os seus efeitos permanecem durante dias. E, embora possa ter semelhanças, não é um mero passeio contemplativo.
Os guias, no caso dos Banhos de Floresta, e os terapeutas, no caso da Terapia Florestal, são peças fundamentais de ambas as práticas. Já existem alguns em Portugal e o Forest Therapy Hub e a Association of Nature & Forest Therapy são as entidades de referência na formação destes profissionais.
Da psicologia à imunologia, são já vários os estudos científicos que atestam os benefícios fisiológicos e psicológicos dos Banhos de Floresta e da Terapia de Floresta, mas há diferenças entre as duas práticas que importam sublinhar. Enquanto os Banhos de Floresta são uma atividade de bem-estar e melhoria da qualidade de vida que se enquadra no mesmo campo de levar uma dieta saudável, fazer exercício de forma recorrente ou frequentar uma estância termal, a Terapia de Floresta equipara-se a uma intervenção semelhante à da psicoterapia, onde o objetivo é o tratamento e a reabilitação do paciente, o terceiro pilar.
Ou seja, num sistema de saúde apoiado em três pilares - promoção, prevenção e tratamento -, os Banhos de Floresta enquadram-se nos dois primeiros e a Terapia de Floresta no terceiro. No entanto, enquanto a comunidade científica continua a estudar e a fundamentar a relação entre saúde e natureza, existem já algumas conclusões que merecem atenção.
É consensual que ainda há muito para estudar na relação entre a saúde e o bem-estar humano e a natureza, mas já são muitas as evidências da existência de uma relação positiva.
@iNature. Fontes International Society of Forest Therapy (ISFT), Association of Nature and Forest Therapy. Fotos iNature, Malcata Eco Experience, ISFT. Benefícios dos Banhos de Floresta: Association of Nature and Forest Therapy, Sientific Review: The Benefits of Forest Bathing. Última atualização outubro de 2024.