O Museu do Azeite de Belmonte resulta da requalificação de um antigo lagar construído em 1946 por José Fonseca Ferraz para servir os pequenos produtores de Belmonte, que ali deixavam a sua colheita para moer em troca da “maquia” – uma percentagem do azeite produzido. Porém, quem o visitar ficará a saber muito mais do que como se fazia azeite em meados do século passado.
“Verde foi meu nascimento e de luto me vesti para dar luz ao mundo mil tormentos padeci”. A frase do poeta leiriense Afonso Lopes Viera inscrita no chão deste antigo lagar é um atestado da importância do azeite para economia nacional no século XIX.
Belmonte não escapava à realidade de então. A história da agora vila, rica em património histórico – pertence à rede das Aldeias Históricas de Portugal -, e cultural, em particular do judaico, está intimamente ligada ao azeite e ao vinho por motivos económicos e simbólicos.
São vários os brasões familiares com prensas nas fachadas dos edifícios, um simbolismo que a sabedoria popular atribui à lealdade da família Cabral à Coroa. Reza a lenda que durante um cerco ao castelo da vila, Fernão Cabral, o primeiro alcaide de Belmonte e pai do navegador Pedro Álvares Cabral, terá visto morrer uma filha esmagada por uma prensa às mãos dos Mouros por recusar render-se aos invasores.
Mas esta é apenas uma das estórias que se vão conhecendo à medida que se vai percorrendo o edifício na companhia de Teresa Palmeirão, a anfitriã do museu.
Teresa conta-nos que o município adquiriu o lagar à família do fundador em 1991 e manteve-o em funcionamento até 1995, data em que as novas regras de produção ditaram o seu encerramento.
Mais tarde, em 2003, o edifício foi alvo de uma reabilitação que terminou dois anos depois, dando origem a um espaço de memória aberto ao público. “Os turistas brasileiros são os que ficam mais impressionados”, conta-nos Teresa Palmeirão.
Sem rodeios e com a típica simpatia beirã, Teresa explica com se fazia o azeite naquele lagar. A azeitona que chagava ao lagar era colocada nas “tulhas” e dali seguia para a moagem. Os frutos eram depois colocados na “tina” e moídos por grandes pedras circulares chamadas “galgas”.
Este processo originava uma pasta que seguia para a termobatedeira, uma espécie de contentor envolvido por um reservatório de água quente, que aquece a pasta.
Assim que a pasta atingia a temperatura ideal era vertida para vagonetas e enviada para a prensagem. O líquido derivado da prensagem era então centrifugado para separar a água do azeite.
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A tecnologia presente no lagar foi a vigente desde os anos 1950 até ao final do século XX, e conta-nos outra estória. É toda oriunda da Metalúrgica Duarte Ferreira.
Fundada por Eduardo Duarte Ferreira na viragem do século XIX para o XX em Tramagal, concelho de Abrantes, foi um exemplo de empreendedorismo e dos tempos áureos da indústria nacional no século XX. Grande parte dos lagares portugueses eram equipados pela empresa tramagalense.
Era uma tecnologia simples baseada num motor a vapor que produzia a força para mover as galgas, dar pressão às prensas hidráulicas, e produzia o calor e a pressão para aquecer e bater a pasta. Durante os milénios anteriores à era da industrialização, o processo era semelhante, mas a força era obtida por tração animal ou por água corrente.
Na região de Sicó – Alvaiázere é possível ver as ruínas deste tipo de lagares/azenhas. Já a prensagem era feita por sistemas de fuso e varas, um método que perdurou em Portugal até meados do século XX. O Lagar de Varas do Cabeço das Pesqueiras, em Vila Velha de Ródão, também convertido em museu, é um excelente exemplo desta “tecnologia”.
Hoje, a Beira Interior é uma das sete regiões de Denominação de Origem Protegida de azeite. Maioritariamente originário da variedade de oliveira “Galega” –. é um azeite extra-virgem de sabor suave e toques de fruta fresca.
Mas o melhor é aproveitar a época, passar por lá, provar o azeite e deliciar-se com a história, a cultura, o património natural, e a gastronomia da região.
Fonte iNature | Museu do Azeite de Belmonte | novembro 2024.