Nelo Abrantes, Presidente da Gardunha VivaGARDUNHA (MAIS) VIVA

Nasceu por vontade de um grupo de amantes do montanhismo no início do século e, a pouco e pouco, foi-se “engardunhando”. Vinte anos depois, a Gardunha Viva é uma associação que promove e oferece uma multiplicidade de atividades baseadas na natureza, a maioria na Serra da Gardunha e na região que a rodeia, mas também fora dela. A iNature foi visitá-la e trouxe de lá uma história de resiliência e ambição, mas, sobretudo, de paixão pela natureza.


Ao chegar às instalações da Gardunha Viva, na cidade do Fundão, as boas-vindas são dadas pelo “Gardunha”, um cão com ADN da Serra da Estrela, mas que agora responde pelo nome da montanha vizinha. Debaixo do alpendre, anexo ao pavilhão de madeira, a sede da associação, arrumam-se caiaques, uma carrinha da associação e muitos outros equipamentos que servem os associados e os visitantes. Dentro do comprido pavilhão encontramos Alfredo Manuel Garcia Abrantes. Sentado numa das mesas do bar da associação, o Presidente da Direção debruça-se sobre o site da associação (em construção). “Ando aqui às voltas com isto”, diz. As novas tecnologias não são o forte do recém-eleito Presidente da Direção. Nelo, nome pelo qual é tratado e conhecido, é um homem do ar-livre. É na natureza que se sente bem. O escritório e as tarefas a eles inerentes são um sacrifício que está disposto a fazer para poder ser o que é: um fervoroso amante e praticante de desportos de natureza.

No fim-de-semana que estava à porta, a Gardunha Viva preparava-se para receber um grupo de praticantes de montanhismo em visita à região. “É um grupo com o qual temos um intercâmbio de atividades”, conta, e convida-nos para conhecer as instalações. Além do bar, o edifício está munido de sala de jogos, cozinha, sala de reuniões/auditório, casas de banho, balneários e camaratas, onde grupos de outras associações, também sócios da Gardunha Viva, podem ficar quando se deslocam à região para participar nas atividades promovidas pela associação fundanense. “Quando se realiza o GEOTUR – Aldeias do Xisto e o XCO – provas de BTT -, também temos sempre visitas”, exemplifica.

Uma longa escalada

A Gardunha Viva tem a sua génese num grupo de amigos com o gosto comum pelo montanhismo. Começaram em 1997 como uma secção dentro do Clube Académico do Fundão e, em 2002, quando já tinham massa crítica decidiram autonomizar-se. Naquela altura, a associação dedicava-se quase exclusivamente ao montanhismo e à escalada, tendo chegado a fazer expedições à Serra de Gredos, aos Pirinéus e aos Alpes. “Estava-nos no sangue”, diz, saudoso dos velhos tempos, sublinhando que a associação até fazia ações de preparação antes das expedições às mais altas montanhas europeias. Porém, os praticantes foram-se dispersando e a associação teve que se adaptar.

A certa altura, surgiu a oportunidade de concessionarem o pavilhão que hoje é a sede da Associação. “Isto era os bastidores da construção do Regadio da Gardunha”, explica Nelo. Num vídeo na conta de Youtube do Presidente é possível reviver o processo de transformação do edifício, então alcatifado e repleto de estiradores. “Foi duro, mas com a ajuda de todos conseguimos”, diz Nelo. Com menos praticantes de escalda e de montanhismo, na sua vertente mais dura, a Gardunha Viva foi-se virando para o pedestrianismo, uma forma mais leve de montanhismo, entre outras atividades, num processo de adaptação que está hoje a repetir-se. “A Gardunha Viva vive das receitas das atividades. Sem elas, não se geram as receitas necessárias para manter e fazer crescer a associação”, explica Nelo. Esta realidade fez-se sentir ainda mais com o recente contexto pandémico, que obrigou à paragem de muitas atividades.

Gardunha. o porteiro da Gardunha VivaNovas ambições

Mas, se há algo que ficou do passado, é a vontade. Nelo é o sócio número um da Gardunha Viva, sempre fez parte dos órgãos sociais da associação, mas, há três anos, sentiu alguma falta de energia no seio da associação e decidiu (re)avançar para a liderança. Nas suas contas, soma já onze anos na presidência da associação, e sempre com a mesma vontade com que partia para uma expedição nos Alpes franceses. “É preciso estarmos sempre a inovar. As pessoas mudam e nós temos que mudar com elas”, justifica. Do programa de atividades que viu aprovado dois dias antes da visita da iNature, Nelo Abrantes destaca três atividades emblemáticas: a “Travessia da Gardunha”, que acontece no final do mês; a “Marcha Noturna”, que se realiza em junho, e a “Rota dos Castanheiros”, que termina em Alcongosta com um magusto tradicional. Todas reúnem anualmente centenas de participantes e, muitos dos participantes vêm de fora do concelho. O intercâmbio com outras associações e as parcerias sempre forma apanágio da associação.

Já em relação a atividades novas, Nelo Abrantes aponta o “Orienta-te”, a primeira atividade de orientação da associação, uma modalidade que pretendem estimular para o futuro. A primeira edição será na aldeia de Alcaide, em maio. Depois, leva-nos ao alpendre e aponta para os caiaques. “Foi um dos nossos últimos investimentos”, exclama. “Queremos crescer na canoagem e aproveitar o Zêzere, porque apesar de termos o rio aqui tão perto, não há uma única entidade que promova esta prática”, justifica. Mas, apesar das inovações, a génese está lá e as grandes expedições internacionais não desapareceram. Entre 22 a 25 de abril, a associação planeia levar os associados até Picos da Europa, em Espanha.  

A pouco e pouco, a atual direção da Gardunha Viva procura manter-se fiel à sua génese e, ao mesmo tempo, semear novas práticas e estabelecer novos horizontes. Estão a estudar algumas atividades na Serra da Estrela, a prática de Boulder na Serra da Gardunha – um tipo de escalada, a baixa altitude, sem necessidade de cordas de segurança – e foi com muita pena que viram um conjunto de praticantes de Trail optar pela criação de uma secção da modalidade na Associação Desportiva do Fundão em vez de se juntarem à Gardunha Viva. “Sabemos para onde ir, mas temos que ir devagar, porque o período da pandemia prejudicou-nos muito”, lamenta, mas a determinação de quem outrora subiu às mais altas montanhas da Europa está lá, inabalável. E a escalada já começou. “O nosso objetivo é responder à procura que existe por diversas atividades baseadas na natureza, mas que não são oferecidas pelas empresas ou associações locais”, remata.

@iNature