“Avistam-se terras de Espanha e areias do Alentejo”, dizia o poeta José Régio sobre o horizonte visto do alto da Penha. Outros, talvez inspirados nas curiosas morfologias geológicas presentes na Paisagem Protegida Regional da Serra da Gardunha, deixaram relatos de visões que levam a imaginação para universos extraterrestres. A Gardunha é assim, misteriosa, dada à imaginação e uma paisagem de contrastes. A norte, os solos xistosos dão origem a florestas onde predomina o carvalho, algum pinhal e soutos, que outrora faziam da castanha o produto endógeno mais importante da região. Hoje, esse título pertence à cereja, fruto que se tornou a marca da serra e da região do Fundão, e cujos pomares em flor na primavera são motivo de romaria de turistas.
A resposta depende da abordagem da visita. Rica em biodiversidade e farta em gastronomia, é uma paisagem fértil para o pedestrianismo e para a prática de BTT, sobretudo, nas estações intermédias, para observar a exuberância da flora sazonal. Seja a andar ou a pedalar conheça aqui as nossas sugestões de percursos pedestres e de BTT. Uma nota: na vertente sul, as águas da albufeira da barragem da Marateca são um santuário para a avifauna. Para quem procura este objetivo específico, o PR2 FND-CTB Rota da Marateca, é um passeio indispensável.
Mas a Gardunha é também uma serra de cultura e tradições e uma boa forma de as conhecer e experimentar é visitar algumas das casas temáticas espalhadas pelas aldeias da região. A “Casa do Barro”, na aldeia de Telhado, a “Casa das Tecedeiras”, em Janeiro de Cima, uma das Aldeias do Xisto desta serra, ou a “Casa da Cereja”, em Alcongosta, a “capital da cereja”, são apenas alguns exemplos e sugestões que pode conhecer melhor aqui.
Embora a viagem seja ao campo e à natureza, vale a pena conhecer a cidade do Fundão, sobretudo, se for a uma segunda-feira. É o dia do mercado semanal, uma efeméride que mantém viva a tradição comercial e ruralidade desta cidade agora virada para as novas tecnologias.
A sul, os solos graníticos dão à paisagem um ar mais rude e agreste, mas onde há água em abundância. É neste vertente da serra que nascem as águas do Alardo e Fonte da Fraga, e também onde a planura é mais propícia à pastorícia e aos queijos da região. Estas diferenças geológicas refletem-se também na identidade das construções das aldeias serranas. A nordeste, junto à Serra do Açor, estão algumas das famosas Aldeias do Xisto, enquanto nas vertentes noroeste e sul, o património edificado de Alpedrinha, da Aldeia Histórica de Castelo Novo e de Alcaide – terra dos cogumelos -, são uma ode ao granito.
Independentemente do solo ou das vertentes, a serra é também palco de festas populares enraizadas nas tradições e nos produtos endógenos que vale a pena vivenciar. Destacamos duas, o “Chocalhos – Festival dos Caminhos da Transumância”, em Alpedrinha, e o “Míscaros – Festival do Cogumelo”. Acontecem em setembro e novembro, respetivamente, e são a melhor forma de conhecer a cultura, as tradições e as gentes desta região beirã.
Mas, seja quando for, o melhor é ir! E, se optar por ficar alguns dias, veja aqui algumas sugestões de alojamento.
@iNature. Fotos @iNature, @kitato e Município do Fundão.
Paisagem Protegida Regional da Serra da Gardunha
Zona de lazer de Castelo Novo
e zona de lazer de Lavacolhos.
Aldeia Histórica de Castelo Novo, Aldeias de Montanha - Alpedrinha, Alcongosta e Alcaide. Casa do Barro, Telhado, Casa da Cereja, Casas das Tecedeiras, Janeiro de Cima e Casa do Bombo, Lavacolhos.
Morfologias graníticas da Gardunha, Penha. Miradouro da Portela da Gardunha e Miradouro da Pedra D'Hera. Estes dois miradouros fazem parte do itenerário de duas rotas pedestres. Conheça-as aqui.
Cabrito assado e borrego. Arroz de míscaros e de boletos. Queijo da Beira Baixa DOP. Pastel de cereja e bolo da Páscoa. Cereja, cogumelos e castanha.