Calcula-se que 60% da água doce a nível mundial tem origem em zonas montanhosas. Não há dados sobre esta realidade em Portugal, mas não é difícil perceber a importância das serras e das florestas nelas existentes para a geração de água doce em Portugal, e a região Centro de Portugal é disso um exemplo: os dois maiores rios exclusivamente portugueses, o rio Mondego e o rio Zêzere, nascem na Serra da Estrela e parte dos seus afluentes nas serras circundantes. Mas à medida que se avança de norte para sul e sudeste, a paisagem fica mais plana e diminui o número de rios e ribeiras com caudal constante durante o verão.
Em rios como o Ocreza, que nasce na Serra da Gardunha, a montanha que se diz ser a fronteira entre o Norte e o Sul, e nos rios Erges e Ponsul, já próximos da raia, praticamente não existem zonas balneares. A Zona Balnear do Pego, em Penha Garcia, concelho de Idanha-a-Nova, é uma das poucas exceções - é alimentada por uma antiga levada com origem na albufeira da Barragem de Penha Garcia (sobre o rio Ponsul). É uma das zonas balneares de eleição da rede iNature, mas apesar das qualidades extraordinárias em termos de água e de enquadramento paisagístico, não cumpre os requisitos necessários para hastear a Bandeira Azul.
Da Praia Fluvial de Alvares, no concelho de Góis, para sul, até ao rio Tejo, contam-se sete praias fluviais com o selo de qualidade da Associação Bandeira Azul da Europa (ABAE), mas apenas duas em Áreas Classificadas. A Praia Fluvial Açude Pinto, em Oleiros é uma delas. Alimentada pela ribeira de Oleiros é um tónico de frescura para quem visita o Geopark Naturtejo na região do Pinhal Interior. Pode conhecê-la AQUI e ficar a saber o que ver e fazer entre mergulhos nesta região rica em património natural, cultural e gastronómico.
A segunda praia fluvial na zona sul da área de abrangência da rede iNature está situada na Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros. Pertencentes ao Maciço Calcário Estremenho, estas duas serras de solos calcários são ricas em água. O rio Alviela, no concelho de Alcanena, por exemplo, foi uma das principais fontes de abastecimento de água a Lisboa no século XIX e ainda hoje faz parte do sistema de abastecimento da Empresa Portuguesa de Águas Livres (EPAL). Junto à nascente do Alviela encontra-se a Zona Balnear dos Olhos d’Água do Alviela, uma área de lazer que vale a pena visitar pela mistura de atividades que proporciona.
Todavia, para encontrar uma praia fluvial com a chancela da ABAE é necessário rumar um pouco mais a norte até ao concelho de Ourém, onde se encontra uma pequena pérola da época balnear, a Praia Fluvial do Agroal. Situada na aldeia que lhe dá o nome, esta praia fluvial assinala uma nascente que ali se junta a mais um rio no já extenso leque de cursos de água da rede iNature, o rio Nabão. Com nascente na localidade de Olhos de Água, concelho de Ansião, é um importante curso de água do sistema aquífero Sicó-Alvaiázere que tem o seu auge de notoriedade na passagem pela cidade de Tomar a caminho do rio Zêzere, onde desagua já a jusante da Barragem de Castelo de Bode.
Mas é da nascente existente em Agroal que a praia fluvial ganhou a sua fama. Consta que a água da nascente local tem propriedades terapêuticas, o que deu origem à estância termal Termas do Agroal. Ainda hoje é muito procurada para debelar problemas gastrointestinais e de pele. O Agroal é ainda marcado pela lenda de Santa Iria, uma história trágica de um amor não correspondido que dá um toque de romantismo à aldeia.
Com todas as infraestruturas exigidas pela ABAE, um areal de tamanho generoso, vários espaços de lazer, e uma requalificação que originou uma piscina natural de onde a água arrufa em cascata para o rio Nabão, a Praia Fluvial do Agroal é uma boa escolha para desfrutar da natureza na companhia de amigos ou da família.
Uma sugestão para o intervalo dos banhos: o Passadiço do Agroal. A montante da praia encontra-se o Parque Natureza do Agroal, um espaço de educação ambiental com jardim interpretativo da flora desta região que pode ser visitado a partir da praia, através de um percurso pedestre. Aproveite a visita e leve um pouco de conhecimento sobre o ecossistema do vale do rio Nabão.
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@iNature Ago 2023. Fotos: Município de Oleiros e Município de Ourém